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segunda-feira, 2 de julho de 2012

Conexão San Diego

Viajar traz sempre oportunidades de expansão e crescimento. Basta ter a mente aberta para que o corpo e a alma preencham suas malas com experiências memoráveis: impressões e sensações que podem permanecer por toda a existência. De tudo que se experimenta, quer seja bom ou ruim, ficam reflexões que geram conhecimento, de si próprio e do ser alheio.

San Diego, junho de 2012. O objetivo da viagem foi a participação na trigésima terceira conferência da Sociedade Internacional de Tecnologia em Educação (ISTE). Sem dúvida, importantes ganhos profissionais. Com muito orgulho, novos acréscimos pessoais.

Interação virtual em todos os cantos durante os dias da conferência. Laptops, tablets e celulares acionados dentro e fora das salas, mantendo a comunicação dos participantes entre si e com os conferencistas, como:
. Endereço para download da apresentação e acompanhamento da sessão no seu próprio aparelho: baixado o conteúdo, cada participante pode fazer suas próprias anotações referentes a cada slide.
. Exemplos das últimas tendências em sala de aula: Ipads e flipped classroom, onde o processo interativo virtual otimiza o tempo de contato real com o professor.
. Levantamento de informações em tempo real: "Quem dos participantes conhece a mídia tal? E qual a sua opinião sobre isso? Tecle XYZ no celular e dê o seu depoimento." Na grande tela surgem os textos: "Excelente rede de socialização entre os alunos.", John, de San Francisco, há 3 minutos; "Não sei do que se trata, estou aqui para conhecer a ferramenta.", Greg, de Toronto, há 2 minutos.

Na plateia, tablets enlouquecidos registram anotações, celulares fotografam os slides e, paralelamente, um ou outro aparelho envia mensagens para alguém distante dali. Facebook aberto ou instagram acionado fazem conversas acontecerem silenciosamente durante as palestras. Será isso evidência da capacidade multitask de gerenciar diferentes tarefas ao mesmo tempo? Ou será a materialização do pensamento distante num corpo próximo? Algumas incertezas diante da certeza única:estamos atravessando uma grande revolução. Definitivamente.

E esta viagem me apresenta tal certeza de maneira muito clara. Minha certeza é não simplesmente de que o livro digital é a evolução do livro impresso. Minha certeza vai além da interação didática ensino-aprendizado. Ela se expande para ensino-aprendizado de vida. Percebo que o avanço tecnológico não afasta as pessoas, como muitos teorizam. Ao contrário, a tecnologia possibilita uma grande aproximação entre aqueles que antes se encontravam tão distantes. Senti isto muito nitidamente nas noites em que, sozinha no meu quarto do hotel, me comuniquei via internet com os meus queridos no Brasil. O vazio da distância foi preenchido como se eles todos estivessem no quarto ao lado.

A revolução tecnológica faz surgir um novo padrão de interação entre as pessoas. É bem verdade que o corpo nunca foi capaz de aprisionar a mente. Mas agora, diante dos recursos tecnológicos, a mente passa a ter o equipamento físico, a máquina, para realmente voar. Se meu corpo está numa conferência em San Diego, mas minha mente está na minha filha no Rio de Janeiro, teclo (ou toco) para saber como ela está. E, diante da resposta, minha mente retorna ao local onde o corpo ficou e, novamente, corpo e mente se integram no mesmo lugar.

É claro que o novo vem carregado de modernidade e progresso. Entretanto, não podemos subestimar o lado bom do velho, onde o contato físico impera. O maior risco neste novo padrão de relação interpessoal é a perda do valor das pequenas grandes coisas. Sabe aquele velho ditado de que a felicidade mora ao lado e só quem é tolo não consegue ver? Pois bem, meu receio é que passemos a cometer a tolice de ignorar que bem ali, literalmente ao lado, tem tanta coisa boa. Receio que o olhar adiante possa cegar o olhar minucioso das peculiaridades que só a proximidade permite enxergar. Que as consultas e conversas virtuais nos façam perder o ponto 'x' da palestra no congresso ou o sentido da piada na mesa de bar.

Enfim, tudo é alimento para o pensamento, ou food for thought, como se diz em inglês. Insights e questionamentos que me ocorreram nesta viagem a San Diego, onde, mais do que em qualquer outra viagem, senti os efeitos de estar conectada em grane escala. Conexão pessoal por interface física e conexão virtual por interface tecnológica.

Que gratificante é a possibilidade fazer conviver o melhor do velho e do novo dentro de mim neste momento! O contato real instigando o pensamento e o contato virtual possibilitando o compartilhamento das minhas reflexões com você, leitor. Sem dúvida, o avanço tecnológico faz parte da evolução coletiva do mundo. Que cada um de nós saiba viver este período revolucionário da melhor forma possível, fazendo uso de cada ferramenta tecnológica como instrumento para a própria evolução individual.