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segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Dezessete


No último dia dezessete, estive presente em um evento do qual há algum tempo não participava: um casamento. Fazia cerca de um ano que eu não presenciava uma festividade como a daquela noite: tradicional comunhão na igreja e linda festa de celebração. Pergunto-me por que vou a poucos casamentos hoje em dia. Talvez as pessoas estejam unindo-se de maneira formal com menos frequência do que antes, talvez os amigos do meu convívio não mais se casem – mas descasem, ou talvez receber poucos convites de casamento seja mera casualidade momentânea. Quem sabe nos próximos meses eu não estarei novamente tentando conter as lágrimas emocionadas frente aos noivos e demais convidados para não desmanchar a maquiagem de festa?
Casamentos sempre me comovem. Qualquer que seja a religião ou o formato da união, não há como manter-me impassível diante do sincero desejo de compartilhamento da vida e da fé na conjunção de corpos e almas. É essa a meta comum de dois seres ao casarem-se verdadeiramente: percorrerem juntos a estrada da vida, confiando na orientação que um dará ao outro quando surgirem pelo caminho sinalizações enganosas. E no momento da união, formalizada civil, religiosa ou simbolicamente a dois, o que importa é a genuína entrega de si e a convicção de que tudo vai dar certo.

A felicidade dos noivos era contagiante. Os olhos dela expressavam a alegria e confiança que tivera aos dezessete anos, quando conheceu o pai dos seus dois filhos, embora com o tempo tivesse perdido esses sentimentos e acreditasse que não fosse possível resgatá-los. Os olhos dele expressavam a crença na vida a dois, que conheceria agora pela primeira vez.

Muitos padrinhos e madrinhas testemunharam a felicidade do casal. Entre eles uma mulher de meia-idade e dois homens de idades distintas e grande importância na vida da noiva. O homem mais velho, pai do seu primeiro marido, foi aquele que a apoiou na criação dos filhos, juntamente com sua esposa, que o acompanhava como madrinha. O homem mais jovem, seu primeiro filho, foi quem a fez conhecer, quando ainda bem moça, o significado da maternidade.
Para a chegada das alianças, percorreram o corredor central da igreja duas mulheres baixinhas, uma com avançada idade, outra ainda na puberdade. Avó e filha da noiva entregaram ao casal o símbolo da nova união. Naquele momento, a emoção teimava em molhar os olhos de quem estava presente. No altar, membros de uma antiga família e de uma nova família integravam-se em um só grupamento familiar movido pelo sublime sentimento do amor.

Foi nesse instante, que minha mente desligou-se do presente e transpôs-se para o passado. Lembrei-me de quando, há dezessete anos, nascia o filho da primeira união da noiva. Não sabia ela que quatro anos mais tarde seria mãe novamente, então de uma menina. Não poderia ela supor que ambos, filho e filha, iriam prestigiá-la um dia por uma união que não fosse com o pai das crianças. Não poderiam seus sogros supor que seriam padrinhos de um novo casamento seu. Não poderia eu supor que participaria desse acontecimento, muito menos acompanhada de um parceiro diferente do meu marido.
Dezessete anos. Quanta coisa muda! Amigos, companheiros, família, trabalho, interesses pessoais. Como era a minha vida há anos atrás? Podia eu imaginar as mudanças que iriam ocorrer? Pude eu planejar tudo o que aconteceu?  Sou hoje a mesma pessoa de antes?

Sem dúvida, não sou quem fui há dezessete anos. Sequer sou a mesma de dezessete meses ou dezessete dias atrás. A mudança, lenta e contínua, é inerente à vida, que avança sem que se possa perceber. Um belo dia, como num piscar de olhos, constatamos que tudo mudou. E aí damos conta que aquilo que parecia o fim do mundo já não é tão difícil assim. A dor da perda serenou na saudade. E o fim do relacionamento possibilitou o surgimento de uma nova paixão.
Momento do beijo dos noivos. Meu pensamento retornou ao presente carregado de alegria. É sempre bom constatar o caminhar da vida. E entender que planejar é bom, mas receber as surpresas inesperadas que a vida nos apresenta é muito melhor. Como estaremos nós daqui a dezessete anos, só mesmo vivendo para saber. Mas a fé no que virá com certeza ajuda a tornar essa estrada mais prazerosa de se percorrer. Meus votos aos noivos são de uma vida repleta de boas surpresas. E que eles comemorem cada dia dezessete com o mesmo brilho no olhar daquela noite de agosto de 2013.