Powered By Blogger

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Casa de Pai

Ele diz que não gosta de domingos. Ninguém chega, mas somente parte aos domingos. É o dia em que a filha vinda de longe vai embora e ele vai sentir saudade. 
Bem sabe ele que ela também vai sentir falta do homem de terceira idade. Mas ela não desgosta dos domingos porque sabe que vai voltar. Ele poderá visitá-la em sua casa. Entretanto, não é a mesma coisa. Casa de pai é diferente! É mais gostoso que a casa da gente!
Casa de pai tem retrato. Tem mingau de aveia quente no prato. Tem soneca depois do almoço. Tem afago do velho moço. Tem mapa-mundi na prateleira. E poesia do Bandeira. Tem livro com dedicatória da neta. E fotos de mais de uma década. 
Casa de pai tem céu azul. E caminhada na praia de norte a sul. Tem mar e mata no Morro da Pescaria. E marshmallow na sorveteria. 
Casa de pai tem tudo diet: suco, bolo e picolé. Tem cafezinho com cafuné. E açúcar, somente no coração desse senhor com jeito de meninão - que fecha os olhos quando sorri e gosta muito da Lili.
Casa de pai tem sempre uma boa história, seja no papel ou na memória. Das lembranças dos tempos do bonde aos campeonatos de xadrez, tudo tem a sua vez. Dona Aurea lhe apresentou o mundo da literatura. Benício tinha sapatos gastos. E pouco a pouco o menino foi desenvolvendo seus gostos, criando ambições e realizando conquistas. Com filhas de sangue e filhos de coração, a família desse pai foi crescendo em emoção - de ver filhos se formarem ou casarem. Casa de pai é assim: a gente revive a meninice e juventude - dele e nossa.
Casa de pai tem gostinho de ano novo, com pisca-pisca na grade e vinho branco à tarde. Tem varanda com planta e brisa fresquinha. Tem muito DVD e seriado na tevê.
Em casa de pai, o relógio anda devagar e em quatro dias se pode brincar, cantar, fazer muita coisa boa. Rir à toa, do presente e do passado. Em casa de pai não se fica cansado. A gente deita cedo e dorme bem. Casa de pai faz a gente virar criança e fazer rimas como na infância. 
Pai, não precisa se preocupar porque a filha vai voltar. Afinal, Guarapari é logo ali. Ela volta logo. E vai chegar em um domingo!

domingo, 22 de dezembro de 2013

É preciso saber viver!

A gente cruza com pessoas no meio do caminho e muitas vezes deixa de manter contato. Um certo dia chega a notícia de que aquela pessoa se foi, finalizou o seu percurso e não volta. Isso aconteceu em um final de ano, quando todos imaginamos um futuro cheio de boas surpresas e alegrias. Agora não há mais tempo para planos, intenções ou expectativas com aquele que não está mais aqui. Rir, chorar, brincar, amar ... tudo se foi. Acabou o tempo, expirou o prazo, foi-se a oportunidade.
Mas o relógio não para. Dezembro avança, o ano velho finda para um novo ano começar. Fé no tempo vindouro, trazendo luz e felicidade. Resiste o instinto de sobrevivência da natureza humana - otimista, confiante, ávida por vida. Segue-se com a força emergente de onde jamais se poderia imaginá-la existir. E uma planta verde brota enchendo o coração de esperança. Ainda que a dor da perda permaneça comprimindo a alma, é preciso respirar fundo, seguir adiante e continuar a viagem. 
Surge então a oportunidade de aprendermos a valorizar tudo e todos - inclusive nós mesmos, enquanto o tempo nos permite. Nada de deixar para amanhã o que se pode dizer hoje! Nada de acreditar que o outro entende o que não é claramente dito! Nada de vergonha do arrependimento! Nada de medo de desnudar os sentimentos! 
Urge dizer para a pessoa que se ama o quanto ela é amada. Filhos, amigos, vizinhos, funcionários, colegas, familiares, amores ... Quem quer que seja que saiba da sua importância em nossas vidas. Que ouçam mais e mais os nossos agradecimentos por suas existências. Que tenham a certeza de que são  queridos, amados cada um ao nosso modo particular.
Que o novo ano nos traga a humildade de olhar ao redor e reconhecer o valor de quem está próximo, sempre disponível, e por isso mesmo tantas vezes negligenciado. Que possamos também despertar o nosso amor próprio - não de maneira arrogante e prepotente, mas com a sinceridade que a auto-estima permite ter. E que, assim, possamos reconhecer a responsabilidade das nossas atitudes no mundo e os efeitos que elas provocam em tanta gente. 
Que possamos nos perdoar por nossos erros e aceitar sem culpa ou julgamento o que passou. E que a cada tropeço possamos aprender a traçar um caminho mais reto, correto, em direção à verdade.
Que cada dia desse novo ano seja uma gota de experiência, um passo de auto-conhecimento e um degrau de evolução. Que venhamos a conviver e compartilhar alegrias com todos aqueles que amamos, sem exceção. Para que ao final da estrada possamos olhar para trás e ter a certeza de que o caminho foi bem percorrido, sem dúvidas.
Bem-vindo 2014! Com força, fé, vontade e muita coragem de viver e crescer sempre!