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quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Doses de Felicidade

Em sua página na Revista O Globo de domingo passado, Martha Medeiros publicou o texto ‘Pequenas Felicidades’, uma lista pessoal de cinquenta itens que a deixam feliz.
Parei para pensar e constatei: é isso mesmo. Se não existe estado permanente de felicidade neste planeta que habitamos, é preciso aceitar a ideia de que a felicidade se apresenta em pequenas doses, como gotas de homeopatia. E tal qual a medicina de Hahnemann, é necessário que se faça uma anamnese cuidadosa para identificar que gotas são as mais indicadas para curar cada paciente dos males de infelicidade, insensibilidade e apatia. Que médico consultar? O mais preparado de todos os curadores, é claro: o seu próprio ser. Somente cada um de nós pode identificar que situações nos trazem pequenas felicidades.
O problema é que, como esperamos encontrar felicidade única e permanente, muitas vezes sequer percebemos o quanto pequenas doses de felicidade podem nos trazer tão intensa qualidade desse estado. Mas vale a pena fazer uma consulta com o seu próprio ‘eu’ para entender que todos nós somos felizes sim; o que precisamos é simplesmente aprender a lidar com a efemeridade desse sentimento.
Consultei a mim mesma, focando na minha rotina, do momento de acordar ao de deitar. Pensei nos meus dias, semanas, meses. Pensei na minha vida. Perguntei-me em que situações me sinto feliz e identifiquei alguns momentos de imediato. Outros me vieram à mente após certo esforço em racionalizar os pensamentos. Como conclusão, pude entender que minhas doses de felicidade estão sempre comigo, no vidrinho de homeopatia que carrego no bolso da alma. Entretanto, nem sempre eu me lembre de tomar as gotículas. Algumas vezes me esqueço por completo de sua existência, outras vezes lembro somente quando passou a hora do remédio. Nestes casos, a sensação de “eu-era-feliz-e-não-sabia” aperta o coração.
Minha consulta valeu! Foi uma experiência interessante alternar o olhar sobre mim mesma, sentindo minha voz ecoar ora fora ora dentro de mim: Quando você se sente feliz, Ana Paula? Pense no momento de despertar pela manhã. Lembre a sensação de espreguiçar o corpo. Você adora, né? E as situações do dia-a-dia? Lembra quando você se sensibilizou com o senhor vendedor de biscoitos no sinal e sua dificuldade de caminhar? Lembra como você ficou feliz ao comprar seus biscoitos e receber um sorriso? O que mais te faz feliz, Ana Paula?
Durante essa experiência, surpreendi-me com as inúmeras doses de felicidade que pude identificar ao longo da minha vida. E descobri a palavra-chave para a tomada de consciência dos meus momentos felizes: atenção. É a vigília constante que vai me permitir enxergar todas as situações de felicidade ao meu redor e me possibilitar sorver cada dose no momento exato, na hora ‘agá’. A mente aberta – e alerta - me fará compreender a felicidade como ela é: frequente, embora impermanente.
Diante da minha compreensão expandida, prescrevo a mim mesma as seguintes gotinhas: curtir as histórias da May, receber as lambidas da Teca, bater papo com minha mãe, conversar ao telefone com meu pai, reconhecer identificações com a Cris, ouvir o ‘boa-noite’ do Calí. E também cantar - no banheiro, na sala, no quarto, na cozinha, no carro. Também escrever – impetuosamente no trânsito ou pensadamente no quarto. Também fazer yoga, sentindo a branda dor de cada músculo alongado. Também caminhar, deixando o céu azul inspirar orações. Também traçar o roteiro da viagem a Buenos Aires. E planejar a viagem seguinte. E saborear caipivodka de abacaxi. E devorar o vidro de azeitonas. E apreciar a lua cheia de madrugada. E lembrar o sonho que tive com vô Rezende recentemente. E sentir meu corpo desmilinguir-se ao final da taça de vinho.
 Eis então algumas das minhas doses de felicidade. Como num tratamento homeopático, as absorvo pouco a pouco. E, gota a gota, vou estimulando minha energia vital e alcançando qualidade de vida a despeito da quantidade que eu viva.
E você? Já parou para pensar quais são as suas doses de felicidade para viver bem?