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segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Casa de Pai

Ele diz que não gosta de domingos. Ninguém chega, mas somente parte aos domingos. É o dia em que a filha vinda de longe vai embora e ele vai sentir saudade. 
Bem sabe ele que ela também vai sentir falta do homem de terceira idade. Mas ela não desgosta dos domingos porque sabe que vai voltar. Ele poderá visitá-la em sua casa. Entretanto, não é a mesma coisa. Casa de pai é diferente! É mais gostoso que a casa da gente!
Casa de pai tem retrato. Tem mingau de aveia quente no prato. Tem soneca depois do almoço. Tem afago do velho moço. Tem mapa-mundi na prateleira. E poesia do Bandeira. Tem livro com dedicatória da neta. E fotos de mais de uma década. 
Casa de pai tem céu azul. E caminhada na praia de norte a sul. Tem mar e mata no Morro da Pescaria. E marshmallow na sorveteria. 
Casa de pai tem tudo diet: suco, bolo e picolé. Tem cafezinho com cafuné. E açúcar, somente no coração desse senhor com jeito de meninão - que fecha os olhos quando sorri e gosta muito da Lili.
Casa de pai tem sempre uma boa história, seja no papel ou na memória. Das lembranças dos tempos do bonde aos campeonatos de xadrez, tudo tem a sua vez. Dona Aurea lhe apresentou o mundo da literatura. Benício tinha sapatos gastos. E pouco a pouco o menino foi desenvolvendo seus gostos, criando ambições e realizando conquistas. Com filhas de sangue e filhos de coração, a família desse pai foi crescendo em emoção - de ver filhos se formarem ou casarem. Casa de pai é assim: a gente revive a meninice e juventude - dele e nossa.
Casa de pai tem gostinho de ano novo, com pisca-pisca na grade e vinho branco à tarde. Tem varanda com planta e brisa fresquinha. Tem muito DVD e seriado na tevê.
Em casa de pai, o relógio anda devagar e em quatro dias se pode brincar, cantar, fazer muita coisa boa. Rir à toa, do presente e do passado. Em casa de pai não se fica cansado. A gente deita cedo e dorme bem. Casa de pai faz a gente virar criança e fazer rimas como na infância. 
Pai, não precisa se preocupar porque a filha vai voltar. Afinal, Guarapari é logo ali. Ela volta logo. E vai chegar em um domingo!

domingo, 22 de dezembro de 2013

É preciso saber viver!

A gente cruza com pessoas no meio do caminho e muitas vezes deixa de manter contato. Um certo dia chega a notícia de que aquela pessoa se foi, finalizou o seu percurso e não volta. Isso aconteceu em um final de ano, quando todos imaginamos um futuro cheio de boas surpresas e alegrias. Agora não há mais tempo para planos, intenções ou expectativas com aquele que não está mais aqui. Rir, chorar, brincar, amar ... tudo se foi. Acabou o tempo, expirou o prazo, foi-se a oportunidade.
Mas o relógio não para. Dezembro avança, o ano velho finda para um novo ano começar. Fé no tempo vindouro, trazendo luz e felicidade. Resiste o instinto de sobrevivência da natureza humana - otimista, confiante, ávida por vida. Segue-se com a força emergente de onde jamais se poderia imaginá-la existir. E uma planta verde brota enchendo o coração de esperança. Ainda que a dor da perda permaneça comprimindo a alma, é preciso respirar fundo, seguir adiante e continuar a viagem. 
Surge então a oportunidade de aprendermos a valorizar tudo e todos - inclusive nós mesmos, enquanto o tempo nos permite. Nada de deixar para amanhã o que se pode dizer hoje! Nada de acreditar que o outro entende o que não é claramente dito! Nada de vergonha do arrependimento! Nada de medo de desnudar os sentimentos! 
Urge dizer para a pessoa que se ama o quanto ela é amada. Filhos, amigos, vizinhos, funcionários, colegas, familiares, amores ... Quem quer que seja que saiba da sua importância em nossas vidas. Que ouçam mais e mais os nossos agradecimentos por suas existências. Que tenham a certeza de que são  queridos, amados cada um ao nosso modo particular.
Que o novo ano nos traga a humildade de olhar ao redor e reconhecer o valor de quem está próximo, sempre disponível, e por isso mesmo tantas vezes negligenciado. Que possamos também despertar o nosso amor próprio - não de maneira arrogante e prepotente, mas com a sinceridade que a auto-estima permite ter. E que, assim, possamos reconhecer a responsabilidade das nossas atitudes no mundo e os efeitos que elas provocam em tanta gente. 
Que possamos nos perdoar por nossos erros e aceitar sem culpa ou julgamento o que passou. E que a cada tropeço possamos aprender a traçar um caminho mais reto, correto, em direção à verdade.
Que cada dia desse novo ano seja uma gota de experiência, um passo de auto-conhecimento e um degrau de evolução. Que venhamos a conviver e compartilhar alegrias com todos aqueles que amamos, sem exceção. Para que ao final da estrada possamos olhar para trás e ter a certeza de que o caminho foi bem percorrido, sem dúvidas.
Bem-vindo 2014! Com força, fé, vontade e muita coragem de viver e crescer sempre!

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Femme Fatale


Décimo-quarto dia de viagem à Europa. A estada de uma semana na Inglaterra para uma conferência de trabalho possibilitou-me uma pequena extensão a países próximos. A Europa é mesmo assim: Vai-se de um país a outro em um rápido turbinar sob asas ou em um expresso deslizar sobre trilhos. Fez-se então a oportunidade de, partindo de Liverpool, traçar o roteiro de passeio a Paris e Amsterdam.
A propósito dos temas expostos na conferência, dos lugares visitados, das pessoas que encontrei e dos sabores que experimentei, foram muitos os pensamentos e as sensações que me invadiram. E são justamente essas as minhas maiores alegrias ao viajar: abrir os olhos, despertar os ouvidos, apurar o olfato, aprimorar o paladar, experimentar diferentes sensações corpóreas. Enfim, expandir conhecimento e consciência através de experiências sensoriais, seja diante de situações inéditas ou situações conhecidas que adquirem então uma nova percepção.
São diversos os assuntos que eu gostaria de desenvolver e compartilhar. São variados os temas sobre os quais quero escrever. Em diferentes experiências que venho vivenciando ao longo desses dias, furacões de pensamentos se aproximam, lampejos de ideias reluzem com intensidade e esmaecem de súbito. É grande o anseio de registrar o que tantas situações me fazem sentir, mas isso nem sempre é possível de imediato. E a ventania se acalma, as luzes se apagam, os pensamentos adormecem. Embora aquietado, o desejo de escrever continua vivo, aguardando o momento de despertar.
E neste exato instante, quando os relógios de Amsterdam marcam 21 horas do dia 20 de abril de 2013, sob o céu ainda dourado de sol, assalta-me a oportunidade ansiada. Na banheira deste confortável hotel no 'Museum District' da capital holandesa, relaxando após um dia de muita caminhada, penso no início do filme 'Femme Fatale'.
O calor da água morna, os ladrilhos azulados da parede e um relógio na borda da banheira me fazem imaginar ser Laure Ash, a sensual protagonista de Brian De Palma, mergulhada em lembranças. As imagens que construo, entretanto, não me trazem angústia, como à sedutora personagem, mas enorme contentamento.
O que lembro é um belo rosto desconhecido de mulher, que avistei no aeroporto de Paris há oito dias. Voltam-me os pensamentos e o que desejei ter podido escrever ali. Na quietude deste momento, encontro as condições ideais para que pensamentos e emoções transformem-se em palavras escritas.
Combinamos um encontro no Charles de Gaule, eu e o meu amor, onde iniciaríamos nosso pequeno recesso europeu - eu vinda de Liverpool e ele vindo do Rio de Janeiro. Meu voo foi o primeiro a chegar, conforme previsto. Aguardando por ele, distraí-me acompanhando franceses e estrangeiros atravessarem o portāo de desembarque. Noite fria e chuvosa; pessoas com os corpos cobertos por calças compridas, casacões, gorros e cachecóis em cores escuras. Pessoas comuns.
Meus olhos foram então capturados por um rosto singular, traje incomum, linguagem corporal particular. Uma mulher pouco ordinária naquela multidão. Com cabelos compridos e ondulados cor de mel, pele bronzeada, altura mediana e corpo esguio, ela naturalmente se destacaria, pois era muito bonita. Mas não foi simplesmente a sua beleza que me chamou atenção. Sua feminilidade era esfuziante. E esse era o rastro que ela deixava ao caminhar. Maquiagem discretamente notável, pernas torneadas protegidas contra o frio em meia-calça grossa, saia elegantemente curta, sobretudo cobrindo uma blusa de tecido leve que revelava ligeiramente seu colo por baixo do decote em V. Botas longas de salto alto. Postura ereta. Caminhar confiante e imensamente feminino.
Acompanhei a mulher com os olhos pelos poucos segundos em que ela passou por mim, mas mantive sua imagem em meu pensamento por um bom tempo. Imaginei que ela fosse uma mulher independente e profissional bem-sucedida. Passei meu tempo de espera construindo a protagonista da minha história e procurando explicação para tamanho impacto que a mulher me causara. Por fim, não foi difícil entender: aquela mulher gritou a voz que em mim necessita de liberdade. Voz outrora rouca e agora fortalecida, a minha voz-mulher. A bela fêmea que assisti atravessar o saguão do aeroporto tornou-se a heroína da minha imaginação e o espelho dos meus pensamentos. Ela expôs ousadamente que confiança, segurança e sucesso profissional não anulam a feminilidade que toda mulher deve permitir-se ter.
Perfume, maquiagem, cores, adereços não são símbolos de fragilidade. Sensualidade não é frivolidade. Vaidade não invalida respeito. E é importante sim, que toda mulher, quer seja em Liverpool, Paris, Amsterdam, Rio de Janeiro ou qualquer parte do mundo, exercite sempre a sua feminilidade. Que as mães ensinem às filhas a arte de desenvolver os sentidos femininos: o olhar sensível, o gosto suave, o toque delicado, o cheiro doce, o som da alma. E que toda mulher do planeta sinta orgulho em ser feminina.
Aliviada por organizar meus pensamentos em palavras, trago minha mente de volta ao momento presente. Olho para o relógio e constato que é hora de me arrumar para o jantar. Já é noite no céu. Envolvo-me no roupão de banho e procuro o que vestir. Retiro da mala as botas de cano alto, a meia-calça, o sobretudo e um vestido. Separo meu Kenzo Flower e escolho cuidadosamente as cores da sombra e do batom. Decido usar brincos mais chamativos esta noite.
Daqui a pouco estaremos no restaurante In De Waag, em Nieuwmarkt. Vou degustar os sabores da Holanda e deixar as minhas marcas de batom no copo de vinho.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Divagações de um Pré-Embarque


Desde adolescente adoro o ambiente de aeroporto. O vai-e-vem, o  chega-e-sai, o chora-e-ri, as pessoas bonitas (e as nem tanto assim), os estilos diferentes ... Enfim, chegar algumas horas antes do voo não é somente cumprir uma recomendação das companhias aéreas, mas um grande divertimento.
Praça de alimentação do aeroporto Santos Dumont.  No aguardo do horário de embarque para uns dias de férias em Floripa, busco um lanche querendo  fazer hora e satisfazer o estômago. Na fila para o caixa da lanchonete, penso reconhecer à minha frente  os longos cabelos ruivos e o corpo esbelto de uma atriz que recentemente assisti no palco com texto de Artur Xexeo. No momento em que ela se vira para pegar a carteira na bolsa, me vem a certeza de quem é a mulher. E percebo então que ela está usando óculos escuros - em uma praça de alimentação fechada, isenta da luz do dia. Fico imaginando por quê. Para esconder seu rosto famoso? Ou, ao contrário, para chamar atenção para si? Para ocultar olhos que possam estar cansados? Para criar um 'look' particular? Engraçado  é que algum tempo mais tarde, na sala de embarque, identifico uma outra atriz com o seu Ray Ban no rosto. Deve ser mesmo coisa de global, não muito compreensível para uma reles mortal.
Retiro minha nota no caixa e me dirijo ao balcão. Levanto o papel,  olhando educadamente para a atendente e esperando que ela se dirija a mim. Nada acontece. Verbalizo, então: Dois pães de queijo e um expresso, por favor. Ela vem em minha direção e indaga: Dois pães de queijo e dois expressos? Repito, já sem tanta educação: Dois pães de queijo e UM expresso!  Após um pequeno instante, ela me estende um saquinho de papel e uma xícara de café. Pego o meu lanche e sento-me a uma mesa próxima. Abro o saquinho e vejo apenas um pão de queijo. Volto ao balcão, lembrando  à moça do lado de lá que eu havia pedido dois e recebido apenas um pãozinho. Ah, são dois é? Indaga ela com olhar distante. Percebo que se eu dissesse  serem quatro, receberia o meu pedido em dobro. Pouca diferença faz para ela. Tenho um lâmpejo de impaciência, que logo se transforma em curiosidade. Qual será o motivo de tamanha distração? Patetice nata? Indiferença em relação ao trabalho? Descaso pessoal? Não... Acho que isso não! Ela me entregou inclusive um sorriso juntamente com o segundo pão de queijo... Prefiro imaginar que ela estava pensando em alguma situação muito boa que viveu na noite anterior! Daí a mente fora do corpo naquele momento. É, certamente isso!
Volto à mesa de origem e passa por mim uma mulher afoita, puxando rapidamente sua mala de rodinhas. Em seguida, vejo  uma carteira feminina verde sobre a mesa vazia ao meu lado. Penso  se pertenceria à viajante apressada, mas ela já se foi. Fico observando as pessoas ao redor, tentando entender se alguém teria deixado uma carteira para marcar o lugar enquanto iria comprar algo para comer. (Tudo é possível!) Logo noto que não sou a única observadora do local. Um funcionário da lanchonete se aproxima da mesa e permanece em pé ao lado da carteira olhando ora para ela ora para as pessoas próximas. Fico imaginando quais seriam as cenas seguintes a esse capítulo. Passados poucos minutos, o homem pega a carteira e segue em direção à lanchonete. Eu o sigo com os olhos. Vejo que ele repousa a carteira em algum canto por trás do balcão e retorna ao trabalho. Terá ele a intenção de aguardar que a dona procure sua carteira? Será esse o seu desejo? Irá ele entregar a carteira a algum departamento de achados e perdidos? Ou quem sabe ele está ansioso para abrir a carteira e encontrar um bom trocado ali? Ai, que feio esse meu pensamento! Mas existem tantas pessoas feias, não é?
Continuo a acompanhar a movimentação do local. Casais enamorados, filhos mergulhados no  mundo virtual dos smartfones, executivos em ternos de trabalho, turistas de bermudas... Meus olhos enfim esbarram na tabela de voos e constato que meu embarque é imediato. 
Saio de cena e sigo rumo à Ilha da Magia.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Feliz Criança Todo Dia


Em comemoração ao dia das crianças, as redes sociais estão repletas de fotos dos seus usuários quando menininhos e menininhas. Que delícia ver imagens de pessoas que conhecemos desde aquela época distante! Que prazer conhecer agora a criança que o amigo mais recente era! O que curto é mergulhar em cada imagem e verificar o que se preservou da criança no adulto. Pode ser o olhar, a covinha no rosto...  seja o que for, alguma coisa ficou.
Adoro buscar na pele que se modificou, a expressão que se manteve ou nos dentes que estão diferentes, o sorriso que não mudou. Fico imaginando o que mais de cada criança reside no adulto que vejo agora e como cada adulto vê o que não mais existe daquela criança.  Qual será o sentimento de cada um ao ver-se na foto postada para o mundo? Saudade? Alegria? Melancolia?

Penso no ser criança e sua satisfação em simplesmente ser: autêntica, alegre, criativa. Qual criança não dá um abraço apertado sem medo da entrega? Não dá risada do que parece não ter graça? Não faz de qualquer pequena coisa um brinquedo? Olho o meu retrato e reconheço ali meus olhos curiosos, profundos, querendo ganhar o mundo. Guardo lá de trás a criatividade e procuro exercitar hoje mais espontaneidade. Sim, muito ainda da minha criança reside em mim e do que não mais existe quero resgatar a crença de que tudo é possível.
Nessa semana em que brincamos de mostrar ao mundo a nossa criança, bem que poderíamos reviver algumas brincadeiras. Que tal um pique-pega em que ao ser tocado você faz uma coisa engraçada, infantil? E para entrar no jogo, basta sentir-se tocado. Daí o inusitado pode ser fazer uma careta na rua ou cantar no ônibus... qualquer coisa que faça você e o outro rir.

A propósito do Dia das Crianças, desejo a elas que carreguem consigo a ludicidade pela vida adulta. E aos adultos, que façam brincar a criança que guardam dentro de si. A todos, feliz criança todo dia!

domingo, 6 de outubro de 2013

Liverpool para sempre


Qualquer destino de viagem é sempre muito bem-vindo. E em se tratando de cidade em país de língua inglesa, meu interesse é ainda maior, pois o contato com a cultura do povo enriquece não somente minha bagagem pessoal, mas também profissional. Porém, admito que visitar Liverpool  nunca esteve exatamente nos meus planos. Eu não tinha muito conhecimento sobre a cidade e nunca fui uma beatlemaníaca, para quem, por razões óbvias, faria todo o sentido deslocar-se para o noroeste da Grã-Bretanha.
Eis, entretanto, que em abril de 2013 a oportunidade surgiu: uma conferência de cinco dias em Liverpool. Tempo suficiente para preencher as malas da memória com novas experiências, e as malas do quarto com alguns souvenirs. Entre palestras e workshops, abre-se sempre espaço para um passeio ao shopping center, uma caminhada pela cidade e um tour pelos pontos principais. Com certeza isso ajuda a relaxar a mente tão focada em assuntos técnicos e, assim, prepará-la para um novo dia de trabalho. Afinal, ninguém é de ferro!
A ida ao shopping aconteceu em um final de tarde, quando eu e minha colega de trabalho fomos ao Liverpool ONE. Para nossa alegria, nos deparamos com um extenso centro comercial a céu aberto, que não imaginávamos pudesse ser tão completo. Mas para tristeza nossa,  já era perto das oito da noite, horário de fechamento das lojas. Exceto uma peça de roupa de boa marca a preço módico, o que adquiri foi o gostinho de imaginar quanta coisa poderia ter levado para casa se tivesse tido mais tempo.  Havia bons descontos em roupas de inverno, por exemplo, uma vez que a estação seguinte já chegara.
 Quanto a caminhar pela cidade, meu exercício foi o percurso diário do hotel para o centro de convenções e vice-versa. Nas manhãs frias e cinzentas de uma primavera atípica, eu andava apressadamente por Albert Dock, contra o vento que soprava do Rio Mersey. No final do dia, fazia o caminho oposto, em temperaturas ainda baixas, porém sob um céu de nuvens douradas. Com passos ligeiros e olhos comprimidos sob o capuz do casaco, admirava a beleza da zona portuária, contemplando o importante patrimônio mundial.
Entre os vários restaurantes e lojas ao longo das docas, estava a Beatles Story, com bonés, T-shirts, livros, CD's e tantos outros artigos dos 'Fab Four'.  E próximo dali, o local onde comprei meu ingresso para um tour de mistério e magia - o Magical Mystery Tour - um passeio em ônibus no modelo do veículo do filme homônimo, ao som dos Beatles, por locais relacionados à vida e obra dos meninos de Liverpool. Não sou uma amante inveterada dos Beatles, como disse, mas esse passeio me despertou reflexões mágicas.
À medida que o ônibus passava por pontos de referência dos integrantes do grupo, o guia dava explicações, como em qualquer passeio turístico, embora aquele não fosse um passeio qualquer. Em alguns dos pontos, o ônibus parava e saltávamos todos para fotos e contato mais próximo com as referências. Assim foi em Penny Lane, onde fiz o registro fotográfico da placa com o nome da via imortalizada por McCartney. Assim foi em Strawberry Field, onde também fotografei o portão vermelho do antigo orfanato do Exército da Salvação em que Lennon brincava durante sua infância. E assim foi na casa de número 20, em Forthlin Road, onde Paul morou durante a adolescência e vivenciou a partida da mãe pouco antes da chegada do sucesso. Essas três paradas trouxeram-me pensamentos e sensações muito inesperados.
Pensei no lirismo com que o cotidiano de Penny Lane foi retratado na canção, como pessoas que param para cumprimentar o barbeiro ou o bombeiro que estranhamente foge da chuva. O dia-a-dia de pessoas comuns sob o olhar sensível de quem parou para observar o mundo ao seu redor. Pensei em como cada um de nós poderia imortalizar a rua em que vivemos, o bairro em que moramos ou os lugares que frequentamos, simplesmente através do olhar atento e presente, tantas vezes negligenciado pela insensibilidade da pressa urbana. Não falo em tornarmos nossos arredores conhecidos mundo afora, como fizeram os meninos de Liverpool, mas em valorizá-los mundo adentro.Como é possível tornar tanta coisa simples imortal! Basta parar, estar presente e sentir.
Quanto a Strawberry Field, todos certamente tivemos os nossos campos de morango na infância. O doce lugar, a doce pessoa ou situação que nos acalentava diante das dificuldades. Retornar à doçura do passado nos momentos amargos da vida nos faz resgatar forças para superar obstáculos. A fonte de inspiração de Lennon nos lembra onde podemos buscar nossas motivações mais íntimas para seguirmos adiante.
A casa de Paul me fez refletir sobre a vida, sempre imprevisível. Ao mudar-se para a casa de tijolos vermelhos, o menino não imaginava as mudanças que sofreria o seu destino. Não poderia supor seu teto desabando, com a perda da mãe, nem a casa se reerguendo, com o crescimento da sua música. Mas assim é a vida: morada sem paredes, portas por abrir e chão e teto que se refazem, mesmo quando parecem desmoronar. É preciso acreditar na vida!

Ao final do passeio, a magia estava concluída e meu ticket to ride havia me rendido muito mais do que as duas horas corridas no relógio. O que fiz não foi simplesmente um tour temático. Fiz uma viagem através do universo, meu universo particular.
 Eu, que não tinha tanto interesse por Liverpool, jamais poderia imaginar os ensinamentos que ali me aguardavam. Aprendi bastante sobre a cidade, suas características e peculiaridades. Aprofundei conhecimento a respeito da banda mais popular do mundo. E, o mais fantástico: às lições que vieram de fora, somei aprendizados que brotaram de dentro.
O que posso dizer de Liverpool agora é que essa experiência ficou nos meus ouvidos e nos meus olhos, bem ao estilo da imortal Penny Lane. Ou ainda, ao estilo de Strawberry Field, eu diria: 'Liverpool para sempre'.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Cartão de Aniversário

O que você escreveria para o seu amor em seu aniversário de relacionamento?

Namoro ou casamento, não importa o status da relação. Importa sim a paixão, o carinho, o querer bem. A vontade de chamar ‘meu bem’ e recostar a cabeça no ombro. Saber que pode contar, que não há do que duvidar, que é possível sorrir e chorar.
 
Não importa morar junto ou separado. Importa é tê-lo sempre ao lado, para ouvir e falar, dividir e contar como foi o seu dia, o que lhe trouxe tristeza ou alegria.

Gostos semelhantes ou distintos, pouca diferença faz a opinião. Difere sim é o respeito pelo ‘não’, o companheirismo e a compreensão.
 
Uma dose de ciúme instiga o sentimento. Mas ciúme em excesso traz ressaca e dor de cabeça. O que vale é combater a embriaguês da insegurança. E acreditar no gesto que só você conhece, nas palavras que só você entende e no olhar que só você traduz.
 
Revirar o passado, só se for por coisas boas. Lembrança dos dois à toa, encantados um com o outro. Relembrar momentos, só dos dois juntos, pois não importa o mundo antes desse encontro.
 
Projetos para o futuro alimentam a relação. Mas é no presente que se entrega o coração. E sem coração presente não há semente que vingue.
 
No dia do seu aniversário de relacionamento, brinde! E escreva sobre o que realmente importa, faz diferença e vale a pena entre vocês. Citando o poetinha, deseje que seja infinito enquanto dure o seu amor. E sendo o amor verdadeiro, que ele dure por toda a vida!

domingo, 29 de setembro de 2013

Meu Bem


Foi a milhas de distância do Rio de Janeiro que tomei conhecimento de Beatriz Milhazes, seu nome e sua obra. Em uma exposição no Museu de Arte Latinoamericano de Buenos Aires em 2012, as cores vivas dessa grande artista plástica exaltaram em terras portenhas meu orgulho de ser carioca, conterrânea de Beatriz. A intensidade, a alegria e o dinamismo de suas telas refletem o estado de espírito que nós, cidadãos tropicais, conhecemos tão bem. Não há como sentir-se indiferente aos círculos, listras e estrias vibrantes que parecem saltar das telas em direção aos nossos olhos, hipnotizando nossa mente.
A rendição ao mundo de cores de Beatriz nas salas do MALBA transportou-me no tempo e espaço. Por instantes, voltei à década de 70 e avistei, no centro do Rio de Janeiro, a sala do pequeno apartamento da minha avó. Ali estava eu, pernas e shorts curtos, rabiscando com gizes coloridos um quadro negro de brinquedo. Havia também muitos lápis de cor espalhados sobre o mármore branco da mesinha de centro. E ainda tinta-nanquim cobrindo por inteiro uma folha de papel úmida, que ao secar seria cuidadosamente riscada com alfinete para revelar traços do colorido escondido por baixo da tinha. Nas tardes daquele tempo, enquanto minha mãe trabalhava fora, era na casa da avó que a criança nada arteira e um tanto artística soltava a sua imaginação e libertava em cores o seu mundo secreto. Incrível como poucos minutos diante de uma tela me fizeram a memória regressar tantos anos. Mas é justamente esse o poder da arte: tocar a atemporalidade da alma e nos fazer viajar sem sair do lugar.

 No dia 8 de setembro de 2013, minha alma novamente inquietou-se com a obra de Beatriz, dessa vez em nossa terra natal.  Não poderia haver melhor escolha de lugar para abrigar Meu Bem, uma mostra artística de tamanha vibração, que uma construção cheia de simbolismos de liberdade. Centro das movimentações históricas da abolição da escravatura e proclamação da república do Brasil, o Paço Imperial veio alojar a moderna movimentação de cores que alforriam a mente das formas estáticas e previsíveis.
Logo no início da exposição surge o impacto de um gigantesco móbile com flores, miçangas, espelhos, brilho, transparência e cor. De imediato, invade minha mente a imagem coletiva do carnaval carioca e seus carros alegóricos. Não imediatamente, assaltam-me os sentidos lembranças particulares dos meus carnavais passados. Eu, que tinha o sonho adolescente de desfilar em uma grande escola de samba, não poderia imaginar meu desejo tornando-se real por tantos carnavais. Durante os quinze minutos em que apreciei a peça, revivi meus quinze anos de desfile na Marquês de Sapucaí. Meu corpo e espírito fundiram-se em alegria no Paço Imperial, minha alma sorrindo diante de cada enfeite pendente que lembrava os adereços e alas do querido Salgueiro na avenida.

Feliz começo de exposição, boas lembranças, belas fantasias. E assim seguiu meu passeio de domingo pelas salas do velho edifício colonial. Próxima descoberta: imagens coloridas em recortes de papel. Deparei-me então com o trabalho de colagem, que não tivera a oportunidade de conhecer na Argentina. Maior proximidade das obras revelou-me uma surpresa: as imagens eram bem familiares. Um olhar mais cuidadoso evidenciou o inesperado: papéis de bala e embalagens de bombons, sobrepostos, ora levemente escondidos, ora claramente expostos.
E brilhou naquele momento o olhar da minha criança curiosa, gulosa, encantada, buscando no bolso do paletó do pai os chocolates que ele trazia na volta do trabalho. Os papéis de bombom eram doces pedacinhos de lembranças que se desembrulhavam em minha mente. Eis a arte brincando com o tempo.

A brincadeira seguiu pelas colagens de recortes de sacolas de lojas. Ali minha menina se fez mulher, seduzida pelo mundo da moda e da beleza. Nomes de lojas internacionais me levaram a locais que conheci e a outros que ainda visitarei. Novamente a arte a serviço do atemporal; presente, passado e futuro fundidos no mesmo instante.
Saí da exposição levando o seu colorido em meus olhos e suas formas em minha mente, como um caleidoscópio de arabescos. Senti-me leve, alegre, pulsante. Através das pinturas, gravuras e colagens passeei por minha meninice, adolescência e maturidade, ziguezagueando através do tempo. A viagem lúdica pelo mundo de Beatriz levou-me ao encontro do meu maior bem: a minha história. Coisas que a arte bem sabe fazer!

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Dezessete


No último dia dezessete, estive presente em um evento do qual há algum tempo não participava: um casamento. Fazia cerca de um ano que eu não presenciava uma festividade como a daquela noite: tradicional comunhão na igreja e linda festa de celebração. Pergunto-me por que vou a poucos casamentos hoje em dia. Talvez as pessoas estejam unindo-se de maneira formal com menos frequência do que antes, talvez os amigos do meu convívio não mais se casem – mas descasem, ou talvez receber poucos convites de casamento seja mera casualidade momentânea. Quem sabe nos próximos meses eu não estarei novamente tentando conter as lágrimas emocionadas frente aos noivos e demais convidados para não desmanchar a maquiagem de festa?
Casamentos sempre me comovem. Qualquer que seja a religião ou o formato da união, não há como manter-me impassível diante do sincero desejo de compartilhamento da vida e da fé na conjunção de corpos e almas. É essa a meta comum de dois seres ao casarem-se verdadeiramente: percorrerem juntos a estrada da vida, confiando na orientação que um dará ao outro quando surgirem pelo caminho sinalizações enganosas. E no momento da união, formalizada civil, religiosa ou simbolicamente a dois, o que importa é a genuína entrega de si e a convicção de que tudo vai dar certo.

A felicidade dos noivos era contagiante. Os olhos dela expressavam a alegria e confiança que tivera aos dezessete anos, quando conheceu o pai dos seus dois filhos, embora com o tempo tivesse perdido esses sentimentos e acreditasse que não fosse possível resgatá-los. Os olhos dele expressavam a crença na vida a dois, que conheceria agora pela primeira vez.

Muitos padrinhos e madrinhas testemunharam a felicidade do casal. Entre eles uma mulher de meia-idade e dois homens de idades distintas e grande importância na vida da noiva. O homem mais velho, pai do seu primeiro marido, foi aquele que a apoiou na criação dos filhos, juntamente com sua esposa, que o acompanhava como madrinha. O homem mais jovem, seu primeiro filho, foi quem a fez conhecer, quando ainda bem moça, o significado da maternidade.
Para a chegada das alianças, percorreram o corredor central da igreja duas mulheres baixinhas, uma com avançada idade, outra ainda na puberdade. Avó e filha da noiva entregaram ao casal o símbolo da nova união. Naquele momento, a emoção teimava em molhar os olhos de quem estava presente. No altar, membros de uma antiga família e de uma nova família integravam-se em um só grupamento familiar movido pelo sublime sentimento do amor.

Foi nesse instante, que minha mente desligou-se do presente e transpôs-se para o passado. Lembrei-me de quando, há dezessete anos, nascia o filho da primeira união da noiva. Não sabia ela que quatro anos mais tarde seria mãe novamente, então de uma menina. Não poderia ela supor que ambos, filho e filha, iriam prestigiá-la um dia por uma união que não fosse com o pai das crianças. Não poderiam seus sogros supor que seriam padrinhos de um novo casamento seu. Não poderia eu supor que participaria desse acontecimento, muito menos acompanhada de um parceiro diferente do meu marido.
Dezessete anos. Quanta coisa muda! Amigos, companheiros, família, trabalho, interesses pessoais. Como era a minha vida há anos atrás? Podia eu imaginar as mudanças que iriam ocorrer? Pude eu planejar tudo o que aconteceu?  Sou hoje a mesma pessoa de antes?

Sem dúvida, não sou quem fui há dezessete anos. Sequer sou a mesma de dezessete meses ou dezessete dias atrás. A mudança, lenta e contínua, é inerente à vida, que avança sem que se possa perceber. Um belo dia, como num piscar de olhos, constatamos que tudo mudou. E aí damos conta que aquilo que parecia o fim do mundo já não é tão difícil assim. A dor da perda serenou na saudade. E o fim do relacionamento possibilitou o surgimento de uma nova paixão.
Momento do beijo dos noivos. Meu pensamento retornou ao presente carregado de alegria. É sempre bom constatar o caminhar da vida. E entender que planejar é bom, mas receber as surpresas inesperadas que a vida nos apresenta é muito melhor. Como estaremos nós daqui a dezessete anos, só mesmo vivendo para saber. Mas a fé no que virá com certeza ajuda a tornar essa estrada mais prazerosa de se percorrer. Meus votos aos noivos são de uma vida repleta de boas surpresas. E que eles comemorem cada dia dezessete com o mesmo brilho no olhar daquela noite de agosto de 2013.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

E se passaram dezoito anos!



08 de maio de 1995. Tudo era muito novo - para mim e para você. Eu, iniciando uma experiência inédita na vida. E você iniciando a sua própria vida. Alegria, ansiedade, expectativa. E também receios, dúvidas, inseguranças. Porém, sempre a minha certeza do sentimento maior, soberano e onipresente: o amor. 
Numa chuvosa noite de segunda-feira, seus pequenos olhos negros abriram-se para o mundo e seu choro cessou no meu peito. Iniciamos ali uma história de cumplicidade, carinho e bem-querer. Uma história da qual passaram a participar pai, avós, padrinhos, tios, tias, primos e amigos. 
A chegada à nossa casa foi cercada de cuidados. Mãe sem experiência que era, eu temia que  som, luz ou muitas pessoas pudessem perturbar aquele frágil ser. Com o tempo, aprendi que os bebês não são tão indefesos assim. Eles têm os seus mecanismos de proteção e sua personalidade própria. E você desde muito cedo demonstrou gostar da casa cheia!
Após alguns meses de vida, apareceram os primeiros amiguinhos: dois bebês moradores do pequeno prédio de Vila Isabel. Você se lembra? E na sala do apartamento, sobre o tapete colorido  de borracha, arrastavam-se os corpinhos na ânsia de ganhar o mundo. Aos poucos, você passou a levantar-se e apoiar os bracinhos no sofá, até que seus primeiros passos se deram. Também as primeiras frases se emitiram e você começou a comunicar-se com mais clareza. Fazia discursos completos, ora em português, ora em 'mayarês', sua língua própria que tanto nos encantava.
E chegou a primeira escola. Chegaram os novos amigos, as professoras e as descobertas de um mundo maior. Surgiram os primeiros desafios.
Mudamos para um apartamento mais amplo. E nas varandas da Tijuca, você viveu novas experiências. No novo bairro, você passou a frequentar uma outra escola e expandiu o seu conhecimento de mundo. Experimentou ser bailarina, nadadora, desenhista e flautista. Fez amizades que permaneceram e amizades que se foram. Aflorou a sua criatividade em desenhos, que eram minuciosamente traçados e pintados em vivas cores. Desenvolveu sua imaginação em histórias que criou e poemas que escreveu. Exercitou sua sensibilidade no amor que dedicou aos seus animaizinhos de estimação - os dois hamsters fêmeas. Explorou seu humor em  personagens  e performances cômicas que desenvolveu, nos fazendo gargalhar nos almoços de família, quando a professora siliconada se apresentava  para seus alunos.
Ocorreu uma nova mudança de apartamento. Dessa vez causada pela alteração na estrutura  do núcleo familiar. Pai e mãe separados de corpos, porém unidos permanentemente  no amor por você. Chegou a pequena Yorkshire para integrar-se à família.
Iniciou-se o ensino médio e diferentes amizades surgiram. Muitos professores. Estudos ampliados. Novidades.  A infância foi sendo deixada para trás e a adolescência começou a despontar. As transformações no corpo, as inseguranças, os interesses diversos. A descoberta do teatro e a vontade de ser atriz. Sua personalidade se definindo: a indignação com as injustiças, a lealdade com os amigos, a compaixão pelos animais, a vaidade feminina, o controle do dinheiro e o gosto pelos prazeres da vida. Com a proximidade da conclusão dos estudos, a angústia da escolha de uma profissão. Até a decisão se concretizar.
No início deste ano, abriu-se uma gigantesca porta em sua vida: a universidade. Sonhos, desapontos, muitas coisas acontecendo e tantas outras por vir. Nossa, o tempo passou! 
Modificações ocorreram. Pessoas queridas partiram e outras chegaram. É, minha filha, assim é a vida: movimento constante, evolução incessante. E se passaram dezoito anos! 
Hoje é dia de agradecimentos: a Deus, por fazer de você minha filha; à vida, por nos manter unidas até agora e a você, pelo ser humano que é. Hoje é dia de votos: que você descubra as suas verdades, que trace o caminho da sua felicidade, que se realize pessoal e profissionalmente. Hoje é dia de gritar bem alto: FELIZ ANIVERSÁRIO! E lembrar a você, moça Mayara, que para sempre eu vou te amar! 


quarta-feira, 20 de março de 2013

Feliz Aniversário!


Hoje é dia do meu aniversário. É o dia em que, quando criança, eu dormia à tarde para fazer o tempo passar mais rápido até que chegasse a minha festa de comemoração à noite. É o dia em que, quando adolescente, confiança e insegurança internas combatiam-se a todo instante, a segunda vencida pela primeira a cada parabéns recebido e, com isso, a certeza de que eu era lembrada e aceita.
Passados quarenta e seis anos, muita coisa mudou em relação à data do meu aniversário. Não mais adianto o relógio, ansiando pelo melhor do dia. Tampouco temo a exposição ou a não-aceitação. Quero viver este dia de olhos bem abertos. Quero enfrentar meus fantasmas verdadeiramente, sem camuflar sentimentos.

Hoje é dia de refletir sobre as conquistas, o amadurecimento e o progresso que a vida vem me proporcionando. É dia de reconhecer os agentes de dentro e de fora que se combinam e criam um amálgama de influências traduzidas em quem eu sou.
 Hoje é dia de valorizar a minha força interna, mantenedora do meu solo firme mesmo em períodos de tempestade. É dia de permitir fluir a minha religiosidade e acreditar na minha intuição. É dia de ousar. Usar o dia. Ousadia.

 Hoje é dia de coroar os familiares presentes e ausentes, por deixarem todos as suas marcas em mim, presenteando-me com seus melhores modelos de vida. A avó persistente, a avó faceira, o avô organizado, a mãe conselheira, o pai carinhoso, o tio moleque, o tio musical. A irmã única, em quantidade e valor. O parceiro companheiro que foi. O parceiro companheiro que é. A filha sensível e solidária. Uma família pequena, cuja união resistiu ao rompimento dos matrimônios. Pais, mães e filhas separados de corpos, porém unidos em alma.
 Hoje é dia de agradecer os amigos de outrora e de agora. Amigos da infância, amigos do colégio, amigos da faculdade, amigos do trabalho, amigos do canto, amigos da família, amigos de fé, amigos de mesa de bar. O amigo que nasceu formal e cresceu tão cúmplice. O amigo que mudou de cidade. As amigas que mudaram de país. A amiga da amiga, que tornou-se mais confidente do que a amiga em comum. Amigos de muitos anos. Amigos de poucos meses.

 Hoje é dia de reunir o bom de fora e o bom de dentro, valorizar cada momento, cada afeto e gesto de delicadeza. É dia de celebrar o meu nascimento!
É dia de reconhecer que o estado de felicidade requer muito menos do que prega a sociedade de consumo. A felicidade é construída pelo bem-querer e bem-ser-querido. Hoje, na maturidade da minha vida, sinto-me segura em admitir o tanto que quero bem a tanta gente e o tanto que sou benquista por tantas pessoas. Neste dia de aniversário, sinto aproximar-se a leveza que venho perseguindo há muito tempo. Sinto mais perto o cheiro da liberdade que venho buscando. Sinto uma expansão de horizontes que eu não supunha existir. Sinto alegria. Sinto prosperidade.

Hoje é um dia muito feliz. Sem dúvida, um feliz aniversário!