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quinta-feira, 2 de julho de 2015

Pensamentos de Bordo


_ There she is! Wow!
_ You've always liked her, right?
_ You know the answer!
_  Peraí, por que em inglês?
_ You know it always happens! Especialmente em se tratando dela. Ela me inspira! Daqui nem parece tão bonita, tão imponente. 
_ True! Conheço bem essa inspiração.  Tô te vendo agora mesmo back in time, na adolescência, sonhando  com ela. Você imaginando como ela seria 'in person'. Suas características, seus movimentos, seus gostos. 
_ Como não sonhar? Eu estudava a língua. Adorava língua. E ela tava sempre ali, referência da língua. Era nos livros. Eram os professores. Era a música. E na época não existia internet. Tudo era distante. Isso aumentava meu encanto, a sua magia. 
_ E a primeira vez, hein?
_ Ah... A gente nunca esquece! Compartilhar tudo com meu pai! Que bacana nós dois descobrindo juntos o que tanto nos fascinava! Lembro como hoje, a gente chegando ao som do Sinatra cantando. Essas agências de viagem sabem fazer a coisa! 
_ Piegas.
_ E eu lá queria saber?! Queria era estar lá! Foi naquela vez que conheci o Fantasma. Virou outra paixão! Got me addicted to it!
_ Olha, a gente está se aproximando!
_ E eu fico assim... emocionada.
_ Mas não é por causa dela!
_ Não é exatamente pelo destino, mas pelo trajeto! Da primeira vez pra cá tanta coisa aconteceu no caminho!
_ Isso! Isso me emociona! 
_Teve a segunda vez, dois anos depois da primeira. Short time, right? Nem tantas mudanças assim. Viagem em grupo: família e amigos. 
_ A vida era quase a mesma. Pouca coisa diferente naqueles dois anos.
_Teve a terceira  vez, catorze anos depois da primeira! That was a long time! Com a minha mãe. E a minha filha! Minha filha... Podia eu imaginar catorze anos antes que teria uma filha? Que não estaria mais casada? Que minha filha já estaria se comunicando em inglês? Curtindo comigo meu sonho de adolescência? Não é muita emoção!?
_ E agora quatro anos depois da terceira! Sem companhia de pai, mãe, filha, família, amigos. All by yourself!
_ All by myself, I WANNA BE...!
_ All by myself... more and more!
_ Quero estar sim. Sozinha. Agora que estou, digamos assim, mais madura! Definitivamente mais segura. Mais confiante. Mais consciente. Mais independente.Curtindo comigo esse momento. Eu em minha companhia. 
É muito caminho andado! É muito trabalho realizado! É muito esforço validado! 
É pra comemorar!
_ Olha, anunciaram a aterrissagem. Vamos lá, pára de escrever e ajeita a cadeira. Aperta o cinto.... E afrouxa o corpo. Estamos chegando!
_ Vamos nós! Curtir essa liberdade interna! 
Right through the very heart of it, New York, New York!!!

quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Salve 2015!

2014 vem chegando ao fim. E como geralmente acontece no mês de dezembro, as reflexões me invadem o pensamento, e mergulho em lembranças recentes e desejos futuros.

Ando um tanto expectadora ultimamente, observadora das pessoas e situações, como quem assiste a um filme projetado na tela de cinema. Neste filme, incomoda-me assistir a algumas cenas que se repetem de maneira desinteressante. São personagens que mantêm o mesmo padrão de comportamento, agindo reincidentemente com falta de cordialidade e educação. O mais incrível é que cada um é o autor de sua própria história neste filme - e ainda assim, as atitudes são as mesmas. Falta criatividade ao roteiro.

Falo do excesso de egocentrismo e da carência de gratidão em algumas pessoas. De sutis a grosseiros exemplos, temos todos uma história para contar. Basta observar, inclusive a nós mesmos. Afinal, estamos todos sujeitos a condenar o filme sem perceber que dele corremos o risco de, por vezes, participar.

A moça recebe oportunidade de desenvolvimento no trabalho, é promovida, prestigiada, mas permanece insatisfeita. Quer escolher o que fazer e com quem trabalhar. Age com mau-humor, como se o mundo estivesse em débito com ela. O ano foi financeiramente difícil para o rapaz. E ele reclama, esbraveja, relutando em perceber tantas outras coisas boas que viveu. Em uma celebração de final de ano, o funcionário é sorteado com o melhor brinde da festa. Sua reação de indiferença parece dizer que a empresa simplesmente cumpriu com alguma obrigação devida. Ao sair pelo portão do edifício, a jovem percebe uma mulher se aproximando. Ela segura o portão para a mulher, que entra sem sequer olhar para a menina. A empregada faz um doce para surpreender a patroa. E a madame reclama pelo que foi feito sem que ela fosse consultada.

São exemplos banais, cotidianos, que a todo instante despontam ao nosso redor. Talvez os personagens atuem sem a intenção de atingir o outro. Talvez simplesmente não se incomodem se o outro é atingido ou não. Importa sim é o umbigo de cada um. E que se dane o mundo que eu não me chamo Raimundo!

Gratidão é sinal de reconhecimento, carinho e respeito. Gratidão é amor - às pessoas, às situações, à vida. É a humildade de olhar para fora de si e valorizar o que e quem está ao seu lado. Gratidão exige cultivo diário, o exercício constante de autovigilância para captar como cada situação lhe beneficia e como retribuir o benefício recebido - o que pode ser bem simples. Gratidão pode manifestar-se com um gesto, um sorriso, uma palavra ou simplesmente uma atitude interna de positividade. Estamos todos interligados de algum modo. Ser grato é, portanto, admitir que o outro é importante, pois a sua mera existência afeta de alguma forma a nossa vida.

Neste final de ano, revendo o meu próprio filme em 2014, tenho uma feliz sensação de vitória, por conquistas internas e alcance de mais um degrau na escalada de crescimento pessoal. Do abstrato ao concreto, do material ao imaterial, do lúdico ao sério, foram várias realizações. À custa de esforço. E sempre com reconhecimento e gratidão.

Brincando com a ideia de filme de cinema, fecho os olhos agora e imagino estar recebendo um Oscar por minhas conquistas em 2014.
Emocionada, leio minha lista de agradecimentos a tudo e todos que contribuíram para o meu sucesso:
Obrigada à minha família pelo apoio emocional sempre presente. Obrigada aos colegas de trabalho pela confiança na minha capacidade profissional. Obrigada aos amigos próximos pelo carinho. Obrigada aos amigos distantes por estarem presentes - principalmente nas curtidas do facebook. Obrigada aos amigos da Canto pelos momentos felizes e cumplicidade através da música. Obrigada à minha secretária pelo cuidado com a minha casa e tudo de tão íntimo meu. Obrigada aos funcionários e vizinhos do meu prédio pela paciência com a reforma do meu apartamento. Obrigada ao meu mestre de obra, fiel escudeiro nos momentos de desespero durante a obra.
Obrigada à minha disponibilidade interna de querer tornar-me uma pessoa melhor, respeitando as minhas dificuldades, mas ainda assim buscando superá-las.
Obrigada à VIDA, sem a qual nada existe.

Abro os olhos e revejo a cena de existência imaginária, porém de intenção absolutamente real. Deixo aqui minha  gratidão profunda a tudo e todos que cruzaram o meu caminho em 2014.

Agradeço de antemão o ano que se aproxima pela oportunidade de poder vivenciá-lo.
E desejo que cultivemos todos muita gratidão no coração. Que façamos do novo ano um ano de muito  reconhecimento, carinho, respeito e amor!

Feliz 2015 para nós!

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Brava Gente Brasileira

Vitória, 06 de outubro. Dia seguinte ao primeiro turno das eleições 2014 no Brasil.
Acabo de sair do aeroporto.
_ Taxi, senhora?
_ Sim. Estou indo para Guarapari.
_ Nossa tarifa é fixa. Venha comigo. Pode entrar, que eu chamo a moça para lhe entregar o recibo.
O tipo amulatado, alto e robusto chamou minha atenção por algum motivo. Pude sentir gentileza no seu tom de voz e suavidade por trás do corpo volumoso. Balancei a cabeça, indicando que concordava. Ele segurou minha pequena mala e a repousou no banco de trás do Doblò, onde sentei-me em seguida.
Iniciei o que eu esperava ser uma breve interação, como normalmente faço em viagens de taxi mais longas, para ganhar a simpatia do motorista de quem estarei refém por algum tempo.
_ O tempo está bem fechado! Tem chovido por aqui?
_ Um pouco. Mas logo abre o sol quente. E à noitinha chove de novo.
_ Mas o bom é que aqui é sempre fresco! Estou indo visitar meu pai. Ele mora em Guarapari.
_ Ah, que beleza! Ele é daqui?
_ Nasceu em Vitória, foi pro Rio menino e voltou quando se aposentou.
_ É, a gente quer sempre voltar pras nossas raízes. Eu tô doido pra me aposentar e voltar pra minha terrinha.
_ O senhor é de onde?
_ Teófilo Otoni, em Minas Gerais. Sou mineiro, uai! Na minha cidade todo mundo conhece todo mundo. A gente sabe que Fulano é filho de Sicrano, que é casado com Fulana. Ô coisa boa! Lá o sujeito passa pela porta da igreja e faz o sinal da cruz. Quantas vezes ele passar, tantas vezes vai fazer! Lá existe respeito, gente honesta! Aliás, honestidade é coisa rara! E nesse ramo de taxi então, ih... o capeta vive tentando a gente! Se bobear, ele te pega!
Percebi nesse momento que o motorista era daqueles que gostam de conversar e que a viagem seria movimentada. Quase me arrependi de ter iniciado a conversa, mas era tarde demais.
_ Pois a senhora sabe que outro dia peguei um sujeito muito bem vestido bem ali onde peguei a senhora? De terno, gravata e uma maleta 007. Ele veio perguntando sobre a minha vida, se esse carro aqui era meu. Eu disse que não! Tenho dinheiro pra ter um carro meu não! Então ele me disse que ganhar dinheiro era muito fácil. E abriu aquela maleta cheia de notas! Vixe Maria, moça! Eu nunca tinha visto tanto dinheiro junto! Fiquei até nervoso!
Diante da eloquência do meu interlocutor, achei melhor lançar mão do meu cardápio de interjeições e deixar que ele continuasse seu discurso. Falei simplesmente:
_ Nossa!
E ele continuou:
_ Num é que ele me disse que era tudo falso?! Eu arregalei o olho e não quis saber não! Olha, dona, tenho um medo de polícia que me pelo! Esse negão grandão que a senhora tá vendo se treme todo na frente de polícia. Se eu fosse metido em encrenca, bastava a polícia chegar perto de mim e eu confessava tudo, tudinho! Fui criado assim. E crio os meus filhos do mesmo modo! A menina tá encaminhada, casada. O menino ainda tá se formando... arruma uns biscates pra ajudar em casa de vez em quando. Eu sempre falei pra eles: "Se rico rouba, não acontece nada porque ele tem dinheiro pra pagar advogado. Já o pobre rouba e não tem jeito. Morre na cadeia. Com razão ou sem razão!" Sou filho do Seu Antônio, moça. Meu pai me criou no bem!
Comecei a gostar daquela conversa, mas não ousei fazer perguntas. Curiosa para saber o que viria adiante, continuei sacando minhas interjeições:
_ Isso mesmo!
_ Eu fui criado na roça, moça. Ajudava na lavoura. E só calcei um sapato com doze anos de idade! Vim pra cá tentar a vida e trabalhei muito. Mas sempre com honestidade! Eu era jardineiro numa casa e todo mundo gostava de mim. Eu lavava o carro dos meninos nas horas vagas. Eles gostavam de mim. Um dia virei pra eles e disse: Olha, eu só vou continuar a lavar o carro d'ocês  se ocês me ensinarem a dirigir. Esse negócio de eu ter que chamar pra manobrar toda vez que é preciso mudar o carro de lugar não dá certo não! Vocês não vêm e eu atraso o meu serviço. E num é que foi assim que eu aprendi a dirigir? E me tornei o motorista da família!
_ Que bacana!
Ainda sem mais perguntas - e sem saber seu nome - eu ia me interessando pelas histórias do cabloco.
_ Eu levava a Dona Fátima pra tudo que era lugar. E ela gostava de mim. Queria sempre me dar uns trocados no final da corrida. Eu dizia que não, porque eu já recebia dinheiro do patrão. Mas ela ficava braba, insistia. Um dia fui falar com o seu Fernando o que tava acontecendo. E ele disse 'Se minha mulher quer lhe dar dinheiro, aceite! Deixe ela!' Sabe, dona, fiquei mais tranquilo de saber que o seu Fernando sabia. Eu não queria nada escondido não!
Assim foi também quando conheci minha mulher. Eu quis logo conhecer o pai dela e falar das minhas intenções. Mulher moderna da capital, ela disse que não precisava. Mas eu só sosseguei quando fui falar com o pai dela. E, olha, tem vinte e cinco anos que estamos juntos e os pais dela me adoram. Eles sabem que podem confiar em mim. É Edmilson pra lá, Edmilson pra cá.
Ah ... Edmilson é o seu nome (pensei).
_ É isso aí, Edmilson.
_ Sabe, moça, quando o caçula tinha seis anos, ele cismou de ir comigo mais minha mulher ao supermercado. Eu não queria levar, mas a mulher insistiu. Era a primeira vez que o moleque ia a um mercado. E então eu tive uma conversa séria com ele. Expliquei que ele ia ver muita coisa diferente. Biscoito, bala, iogurte... Mas ele não podia pedir nada não! Se sobrasse dinheiro no final, eu podia comprar alguma coisa. Mas ele NÃO podia pedir!
_ Tá certo!
_ Pois bem, chegamos lá e começou tudo direitinho. Primeiro corredor, segundo corredor... Moça, num é que no terceiro corredor o menino endoidou?! A gente passou pelos doces e os olhos dele começaram a brilhar. Ele virou pra mim e começou 'Eu quero aquele! E aquele! E aquele!' Lembrei a nossa conversa e pedi pra ele ficar quieto. E ele continuou. Balançava o corpo, balançava as pernas. E começou a gritar. Que queria, que queria... Ah, dona, me deu um negócio... Eu segurei ele pela orelha, fui puxando, fui puxando, fui puxando... E já ia tirar o moleque do chão, quando ele parou. Eu olhei firme pra ele e disse: O que foi que lhe falei? SÓ se sobrar dinheiro! PÁRA com isso!
_ Que coisa!
_ Mas olha, até hoje, que ele tá com dezenove anos, quando vai comprar uma coisa, me pergunta o que eu acho que é melhor. Num pode dar mole não! Essa garotada tem que aprender!
_ É isso!
_ Eu é que sei, que virei a noite na porta da UFES pra conseguir pra ele uma vaga no curso de inglês.
Ai, Edmilson falou em educação! Estudo de inglês! Meu interesse de fato se fez. Não resisti e perguntei:
_ O senhor conseguiu? Ele estuda inglês?
_ Tá estudando sim, senhora! E de graça! Vai aprender inglês! E depois vou juntar dinheiro pra um curso de informática. Hoje é tudo computador, né?  Com computador e inglês, ele vai ganhar dinheiro.
_ Isso mesmo!  (Minha interjeição foi enfática e genuinamente verdadeira!) O inglês é muito importante, Edmilson. Abre muitas portas de trabalho!
_ Dona, eu sei escrever e sei ler. Mas não entendo direito o que eu leio. Sou analfabeto funcional. Mas meu filho vai ter um futuro melhor!
Foi nesse momento, que minha isenção chegou ao fim. E fui eu quem começou a falar:
_ Você está certíssimo, Edmilson. O seu filho vai ter um futuro melhor! Insista pra que ele estude. O estudo é o que faz a gente crescer na vida. E o que a gente aprende ninguém tira da gente. A honestidade que você passa pra ele é também uma riqueza que ninguém vai lhe tirar. Parabéns pela pessoa que você é, Edmilson. Parabéns pelo modelo que você passa para o seu filho. Esse menino vai ser gente na vida!
Edmilson virou o rosto pela primeira vez durante toda o trajeto. Olhou-me nos olhos com orgulho e agradeceu. Parou o carro, em seguida.
_ Chegamos.
_ Mas já? (Meu pensamento falou alto.)
_ É, a conversa tava boa e a gente nem sentiu a viagem!
Saí do carro, paguei a corrida, e recebi um caloroso aperto de mão. Retribui o cumprimento de coração.
Entrei no prédio do meu pai e fiquei pensativa por alguns instantes. Imaginei quantos Edmilsons nascem, e quantos de fato sobrevivem em um país repleto de tentações.
Pensei no dia anterior, e nos milhões de brasileiros que foram às urnas na expectativa de um futuro melhor para os seus filhos. Senti um enorme aperto no peito. Quisera fosse a emoção pela certeza de um Brasil promissor! Mas foi um grito sufocado no misto de dúvida e esperança.
Respirei fundo e fiz uma oração silenciosa, pedindo proteção à brava gente brasileira.
Que Deus ilumine nossos governantes, sejam eles quem forem! E que nos livre do mal!




quinta-feira, 15 de maio de 2014

Apaixonada



Não sou dada a paixões. Mas admiro quem as tem. O fervor ao falar sobre o ídolo único e exclusivo,  a cegueira ao defender o time melhor de todos do coração, a total parcialidade em favor do partido político indefectível, o arrebatamento causado pelo amor da vida! As pessoas apaixonadas vivem o momento presente sem pensar no ontem ou amanhã, com todas as vantagens -e desvantagens- que intensificar o hoje nos apresenta. Tudo é incomparável, excepcional, perfeito. Nada é como aquilo, aquele ou aquela. O fogo da paixão consome a mente racional e impregna de calor o corpo, que arde e enrubrece por sua fonte de prazer.

Deve ser muito bom isso! Mas admito que para minha personalidade planejadora e controladora, a entrega de olhos fechados é um bem difícil. Viver a intensidade do presente sob o véu da ilusão me aflige. Sempre preferi a verdade sincera, com seus vícios e desapontos. Mas entendo que a fantasia é muitas vezes necessária para movimentar a vida. E mais do que entender, neste momento minha alma sente sede de faz-de-conta. Talvez pela idade que avança e faz querer novidade. Talvez pela nostalgia de buscar acreditar em conto de fadas. Talvez pela simples mente permitir-se despertar. Sem controle nem limites. Simplesmente. O que sei é que ando em busca de delírio, devaneio, fascínio, entusiasmo, imprevisibilidade... Paixão. E se não consigo calar a inquietude, que ela solte sua voz com força total!

Estou cansada da estrada reta com casas certinhas de cores harmônicas. Quero o roxo com amarelo e o vermelho com laranja em construções assimétricas numa estrada sinuosa de curvas inesperadas. Quero descer do carro refrigerado e caminhar sob o sol com pés descalços, sentindo a sola arranhar e o sangue circular pelos músculos do corpo. Quero abrir os braços para o vento que sopra em minha direção e me sentir voar, sem medo de cair. Quero dançar todos os ritmos e rodopiar pelas ruas. Quero correr, correr... até desfalecer de alegria. Quero desejo, atração, emoção... Vida. E viver intensamente!

Ainda que eu venha a constatar que existem muitos ídolos iguais ao meu, que meu coração não reconhece mais aquele time, que meu partido político tem muitas falhas e que a vida é extensa demais para se ter um único amor, terá valido a pena experimentar e acreditar que não haveria fim. Sem arrependimento. Completamente apaixonada!

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Dezenove Desejos

Desejo a você
boas conversas ao entardecer.
Sol morninho para aquecer,
saboreando as delícias de Jamie Oliver.
Rosas e tulipas em buquê
e um relógio Cartier.
Alegria pra dar e vender.
Trabalho bom de fazer
e muitos momentos de lazer.
Massagem no corpo até amolecer
e (só) um pouquinho de vodka pra beber.
Chocolate quente pra sorver
acompanhado de sorvete de creme.
Conquistas para agradecer
e sucesso sem sequer perceber.
Muita Agatha Christie pra ler
e outras histórias a conhecer.
Um bichinho pra proteger
e uma planta pra cuidar com prazer.
Desejo a você
uma vida linda de viver!

sábado, 8 de março de 2014

Feliz Dia Internacional da Mulher!

Um amigo perguntou há algum tempo minha opinião sobre uma data específica para a celebração do dia da mulher. Na ocasião, há cerca de dois anos, coloquei-me contra o fato de se instituir data comemorativa ao dia da mulher mas não ao dia do homem. Em minha opinião, isso era um indício de discriminação contra o sexo feminino, pois, se homem e mulher de fato tivessem direitos iguais, não se justificaria estabelecer qualquer data especial para um e não para outro. Achava que todo o alarde em torno do oito de março era, na verdade, um reforço velado ao preconceito e sentimento de superioridade do homem, um prêmio de consolação do senhor dominador para o "sexo frágil".
Pois bem, minha opinião mudou. Acordei hoje pensando no progresso da figura feminina no mundo. Na luta contínua e tantas vezes silenciosa de muitas mulheres contra o desrespeito. No avanço social, político e econômico da mulher ao longo dos anos. Na multiplicidade de papéis que as mulheres acumulam. E senti um enorme orgulho de ser mulher e ter uma data para celebrar o meu  dia.
Dia meu, da minha filha, da minha irmã, da minha mãe, das minhas primas, das minhas tias, das minhas amigas. E de todas as mulheres, próximas ou não, conhecidas ou não.
Recentemente, minha tia, que vem de família grande e muito humilde, contava que sua mãe formou as cinco filhas com o princípio de jamais aceitarem qualquer manifestação agressiva de homem algum. Isso porque a mãe, embora nunca vítima do pai, conheceu mulheres que chegaram inclusive ao óbito em decorrência de espancamentos causados por seus maridos. Falava ela de casos ocorridos no interior do estado do Rio de Janeiro na década de 60 - não de terras ou épocas distantes. Muitas ações violentas e injustas com certeza permanecem, mas inúmeras outras felizmente foram banidas. E hoje a maciça maioria das mulheres se reconhece como ser independente, pensante, opinante. Submeter-se à força física e pretensa superioridade masculina é uma realidade cada vez mais distante e menos presente.
É importante que nós, mulheres, tenhamos orgulho sim! E possamos transmitir às nossas pequenas fêmeas o sentimento de auto-valorização e auto-estima desde a mais tenra infância. Precisamos enfrentar com toda feminilidade e firmeza qualquer vestígio de dominância masculina. E acreditarmos do alto dos nossos saltos em nós mesmas e em nossas capacidades.
Venho de uma ascendência de mulheres fortes que marcaram, cada qual ao seu modo, seu espaço no mundo. Mãe da minha mãe,  minha avó foi mulher de personalidade marcante, dona de casa de pensamentos próprios, matriarca defensora dos filhos e netos, mística devota, modelo de honestidade e formação de valores, abrindo para a filha as portas do estudo como fator de libertação. Minha mãe, embora criada para ser professora formada pelo Instituto de Educação nos anos dourados, conquistou sua colocação em concurso público e galgou sua independência financeira, a despeito do marido conservador. Transformou-se em mulher moderna, independente, e fez da liberdade seu lema de vida. "Viva e deixe-me viver" foi a máxima condutora da formação de suas filhas, a quem legou o desejo de alcançar a felicidade através da não-dependência, para a qual a emancipação financeira era condição sine qua non. Agradeço às mulheres da minha vida os exemplos que cultivei desde cedo para construir meus próprios arquétipos de feminino, compartilhados e acrescentados por outra figura de enorme importância: minha irmã.  E me empenho na formação da mais jovem participante deste clã familiar. Que minha filha mantenha em si o orgulho de ser mulher, permitindo-se as dualidades de força e fraqueza, rigidez e flexibilidade, alegria e tristeza, sensatez e loucura. Porém a certeza única e indubitável de jamais ser inferior ao sexo masculino.
Não defendo um discurso feminista, mas feminino. Reforço o ideal de homem e mulher em parceria, harmonia, complementaridade. Que estejamos todos no caminho do reconhecimento de homens e mulheres como seres que merecem igual respeito. Seres humanos.
E  que venhamos ambos os sexos, portanto, a celebrar o dia de hoje. A todas as mulheres do mundo, feliz Dia Internacional da Mulher!

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Casa de Pai

Ele diz que não gosta de domingos. Ninguém chega, mas somente parte aos domingos. É o dia em que a filha vinda de longe vai embora e ele vai sentir saudade. 
Bem sabe ele que ela também vai sentir falta do homem de terceira idade. Mas ela não desgosta dos domingos porque sabe que vai voltar. Ele poderá visitá-la em sua casa. Entretanto, não é a mesma coisa. Casa de pai é diferente! É mais gostoso que a casa da gente!
Casa de pai tem retrato. Tem mingau de aveia quente no prato. Tem soneca depois do almoço. Tem afago do velho moço. Tem mapa-mundi na prateleira. E poesia do Bandeira. Tem livro com dedicatória da neta. E fotos de mais de uma década. 
Casa de pai tem céu azul. E caminhada na praia de norte a sul. Tem mar e mata no Morro da Pescaria. E marshmallow na sorveteria. 
Casa de pai tem tudo diet: suco, bolo e picolé. Tem cafezinho com cafuné. E açúcar, somente no coração desse senhor com jeito de meninão - que fecha os olhos quando sorri e gosta muito da Lili.
Casa de pai tem sempre uma boa história, seja no papel ou na memória. Das lembranças dos tempos do bonde aos campeonatos de xadrez, tudo tem a sua vez. Dona Aurea lhe apresentou o mundo da literatura. Benício tinha sapatos gastos. E pouco a pouco o menino foi desenvolvendo seus gostos, criando ambições e realizando conquistas. Com filhas de sangue e filhos de coração, a família desse pai foi crescendo em emoção - de ver filhos se formarem ou casarem. Casa de pai é assim: a gente revive a meninice e juventude - dele e nossa.
Casa de pai tem gostinho de ano novo, com pisca-pisca na grade e vinho branco à tarde. Tem varanda com planta e brisa fresquinha. Tem muito DVD e seriado na tevê.
Em casa de pai, o relógio anda devagar e em quatro dias se pode brincar, cantar, fazer muita coisa boa. Rir à toa, do presente e do passado. Em casa de pai não se fica cansado. A gente deita cedo e dorme bem. Casa de pai faz a gente virar criança e fazer rimas como na infância. 
Pai, não precisa se preocupar porque a filha vai voltar. Afinal, Guarapari é logo ali. Ela volta logo. E vai chegar em um domingo!