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quinta-feira, 15 de maio de 2014

Apaixonada



Não sou dada a paixões. Mas admiro quem as tem. O fervor ao falar sobre o ídolo único e exclusivo,  a cegueira ao defender o time melhor de todos do coração, a total parcialidade em favor do partido político indefectível, o arrebatamento causado pelo amor da vida! As pessoas apaixonadas vivem o momento presente sem pensar no ontem ou amanhã, com todas as vantagens -e desvantagens- que intensificar o hoje nos apresenta. Tudo é incomparável, excepcional, perfeito. Nada é como aquilo, aquele ou aquela. O fogo da paixão consome a mente racional e impregna de calor o corpo, que arde e enrubrece por sua fonte de prazer.

Deve ser muito bom isso! Mas admito que para minha personalidade planejadora e controladora, a entrega de olhos fechados é um bem difícil. Viver a intensidade do presente sob o véu da ilusão me aflige. Sempre preferi a verdade sincera, com seus vícios e desapontos. Mas entendo que a fantasia é muitas vezes necessária para movimentar a vida. E mais do que entender, neste momento minha alma sente sede de faz-de-conta. Talvez pela idade que avança e faz querer novidade. Talvez pela nostalgia de buscar acreditar em conto de fadas. Talvez pela simples mente permitir-se despertar. Sem controle nem limites. Simplesmente. O que sei é que ando em busca de delírio, devaneio, fascínio, entusiasmo, imprevisibilidade... Paixão. E se não consigo calar a inquietude, que ela solte sua voz com força total!

Estou cansada da estrada reta com casas certinhas de cores harmônicas. Quero o roxo com amarelo e o vermelho com laranja em construções assimétricas numa estrada sinuosa de curvas inesperadas. Quero descer do carro refrigerado e caminhar sob o sol com pés descalços, sentindo a sola arranhar e o sangue circular pelos músculos do corpo. Quero abrir os braços para o vento que sopra em minha direção e me sentir voar, sem medo de cair. Quero dançar todos os ritmos e rodopiar pelas ruas. Quero correr, correr... até desfalecer de alegria. Quero desejo, atração, emoção... Vida. E viver intensamente!

Ainda que eu venha a constatar que existem muitos ídolos iguais ao meu, que meu coração não reconhece mais aquele time, que meu partido político tem muitas falhas e que a vida é extensa demais para se ter um único amor, terá valido a pena experimentar e acreditar que não haveria fim. Sem arrependimento. Completamente apaixonada!

Um comentário:

  1. Ana, me sinto assim também. Não consigo ter "fervor ao falar sobre o ídolo único e exclusivo, a cegueira ao defender o time melhor de todos do coração, a total parcialidade em favor do partido político indefectível". Ver (quase sempre) os dois lados de uma situação é, ao mesmo tempo, libertador e paralisante. Mas viver intensamente é preciso! Também sou viajante "do corpo e da mente".

    Parabéns pelo blog! Beijos

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