Recentemente estive pensando na minha relação com a escrita e me peguei numa viagem de volta no tempo. Num turbilhão de pensamentos em retrospectiva, fui levada aos bancos da minha primeira escola. Foi lá onde tudo começou.
Eu tinha cinco anos quando as letras do alfabeto me foram apresentadas. Como gostei de conhecê-las e descobrir o poder que tinham de transformarem-se em palavras! Cuidadosamente selecionadas e unidas, as letras eram capazes de conceber os embriões de um novo mundo que se desvendava sob meus olhos de criança. Mais tarde aprendi que da união de palavras surgiam frases, o que me permitia organizar pensamentos silenciosamente no papel. Soube depois que frases relacionadas entre si originavam parágrafos, que, por sua vez, podiam levar ao nascimento de um texto completo. Finalizada a gestação do primeiro texto, estava revelado o processo de criação da escrita. E iniciada a minha mania de escrever.
Meus primeiros textos foram produzidos na sala de aula da escola, mas foi na sala de estar ou no quarto de dormir da minha casa que eu sempre gostei de escrever. Ali eu podia expressar meus sentimentos e observações da vida de maneira segura: minha casa era a fortaleza necessária contra as ameaças do mundo e a escrita era o escudo protetor contra a exposição da minha natureza tímida. Assim a escrita foi-me acompanhando ao longo dos anos e me permitindo registrar a minha história: inexperiência e vivência, ingenuidade e malícia, insegurança e assertividade, tristeza e alegria, ódio e amor, perdas e ganhos. Foram textos de diferentes tipos e finalidades: bilhetes de criança declarando amor à família, relatos das descobertas adolescentes no diário secreto, rimas de amor para o namorado, poemas para a filha em gestação, cartas cobrando explicações não ditas, e muitos mais. Alguns dos registros estão mantidos comigo, outros foram perdidos, deliberadamente ou sem querer.
Hoje, pensar na minha relação com o ato de escrever é refletir sobre mim mesma, minhas características internas e jeito de ser. É reconhecer a minha introspecção e necessidade de solitude de tempos em tempos. É admitir o meu potencial criativo por mais que minhas inseguranças tentem reprimi-lo. É declarar o dilúvio de emoções que jorram dentro de mim, ainda que eu queira transparecer a placidez de um lago sereno. É expor-me para mim mesma, sem disfarces.
Escrever é, afinal, poder contar minha história pessoal com a impressão de uma marca própria. Desde os meus primeiros textos até hoje muita coisa mudou na forma de contar os capítulos do meu livro. Meus pontos-de-vista se modificaram e minhas observações do mundo já não são mais as mesmas. Certamente eu sou uma pessoa diferente daquela de anos atrás. Mas permanece em mim essa mania de escrever. E, com ela, a possibilidade de contar novas histórias ou recontar as velhas lembranças sob um novo olhar.
Ana, que lindo texto! :) Compartilho muito de sua opinião; sempre que me dizem que todo escritor escreve pra ser lido pelos outros, eu rebato dizendo que eu escrevo para me ler. Também vejo no ato de escrever um momento de pura reflexão.
ResponderExcluirQue bom que vc criou seu blog, já virei leitora! ;)
Somos leitoras recíprocas!!!:)
ResponderExcluirAna,
ResponderExcluirBem vinda à blogosfera!!
Pelo que li, estou achando que você vai adorar a experiência de ser blogueira... Aqui você poderá escrever para os outros e para si mesma...
Sempre que puder, estarei por aqui...
Beijos!
Irmã querida,meus olhos ficaram marejados. Quantas recordações... Quantas reflexões... Que belo trabalho. Poste mais e mais textos seus aqui para que possamos presentear nossas almas com uma leitura tão bela. Sou sua fã! Parabéns!!!
ResponderExcluirAlbano Gasparini disse...
ResponderExcluirTerrificccccccccccccc!
Isso está demais, filha. Mexeu com o coração do garotão aqui, deixando-o em roda viva de reminiscências afetivas em ebulição...
Escritos leves, bem elaborados, agradáveis de ler e evocativos de tempos aprazíveis.
Como escreveu Luc Tapahonso (escritor), "Para os índios navajos, o valor de uma pessoa são as histórias e canções que ela sabe, porque é através desse conhecimento que a pessoa se liga à história de todo o seu grupo".
Acho que alguém acabou de assumir uma responsabilidade.
Parabéns à escritora, e também a nós, seus leitores, que deixamos aqui uma pequena mensagem:traga-nos novas histórias, pois são as histórias que dão movimento à vida. Love you!
Também já sou leitor cativo, Ana. Lindas palavras suas. Como foi dito aí, acho mesmo que você tem uma responsabilidade.
ResponderExcluirParabéns pelo texto e pelo blogue!
Bjão
Lindo texto! Tão rico e ao mesmo tempo leve...sempre que eu puder voltarei ao seu blog para ler seus textos.
ResponderExcluirTe admiro muito.
Luciana Coelho.
Que lindo!! Me identifiquei com várias partes ao longo do texto! Adorei, adorei!
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