Qual é o antônimo da palavra ‘póstumo’? Desde sábado passado venho buscando a resposta para essa pergunta, mas não consigo encontrar. Consultei dicionários e amigos proficientes na língua portuguesa, e nada. Ninguém sabe responder.
Na verdade, essa indagação me ocorreu num almoço de família onde estávamos eu, meu tio paterno, meus dois primos e minha prima. Faltaram meu pai, minha irmã e minha filha para que a descendência de Dona Albacy, minha avó paterna, estivesse completa. E foi justamente a propósito de vovó que minha dúvida surgiu. Durante o almoço, falamos da vó Bacy e suas histórias. Sua irreverência, seu jeito alegre, verdadeiro, matreiro e arteiro. Sua beleza, vaidade, feminilidade e sapequice. Seus amores, afetos e desafetos. Lembranças póstumas.
Ao longo da conversa me peguei pensando quem mais da família tinha aquelas características, quem as teria herdado, ou de quem vovó as teria adquirido. Não lembrei. Não há ou houve outro familiar com tanta leveza e descontração na alma. Pensei então se pude entender tudo o que ela teve a nos oferecer em sua vida. Ou se meus inexperientes olhos míopes, buscando nitidez e correção, pouco enxergaram suas grandes virtudes, vendo como falhas sua aparência de avó pouco convencional. É claro, ela tinha falhas, mas quem não as tem? Que atire a primeira pedra quem for perfeito. E que contenham as mãos os narcisistas!
As memórias póstumas durante nosso almoço me trouxeram à vida. Enquanto conversávamos sobre o passado, pensei no que agora se passa e em quem por mim passa nesse momento. Pensei naqueles que me acompanham em vida. Multidões de rostos atravessaram a minha mente em fast forward: mãe, pai, filha, irmã, tios, tias, primos, primas, namorado, ex-marido, colegas de trabalho, amigos do dia-a-dia, amigos da vez-em-quando, pessoas próximas, pessoas distantes – enfim, muita gente! Pensei se sou capaz de entender o que cada um tem a me oferecer, de bom e de ruim. Pensei se privilegio o bom e ignoro o ruim, ou se supervalorizo o ruim e menosprezo o bom. Pensei também que é possível simplesmente constatar o bom e o ruim - sem julgamento. E que esta é a possibilidade que mais deve merecer a minha atenção, a que me permite desfrutar ao máximo quem está comigo agora. Foi então que me veio a pergunta: Qual é mesmo o antônimo de ‘póstumo’? Quero prestar uma homenagem não-póstuma e não encontro adjetivo para tal.
Segue, então, a minha homenagem desadjetivada. Ela vem repleta de respeito a todos que me acompanham nessa jornada da vida. Homenagem plena de admiração pelos que acertam (quase) sempre, pelos que erram crendo ter acertado, pelos que acertam através do erro, pelos que admitem as falhas e pelos que não as reconhecem. Minha homenagem é aos que estão vivos, pois somente deles tenho a certeza de acertos e erros. Talvez a morte traga a redenção dos equívocos cometidos em vida, mas disso não temos certeza. Que possamos dar valor à vida, então, estando ela errada ou não! Através desta homenagem, queridos e queridas, agradeço a cada um de vocês, que certos ou incertos, exercem sempre algum tipo de influência sobre mim. E pelo convívio próximo ou distante, vou aprendendo, amadurecendo com a troca das nossas virtudes e defeitos. Um brinde a todos nós, errantes viajantes!
Olha que lindo, está todo mundo ali, todo mundo que é um pedaço da Ana :)
ResponderExcluirVerdade, Nanda!! Alguns deixaram de estar na foto mas estão guardadinhos nas reticências. Bjs.
ResponderExcluirAgradeço pela parte que me toca, e devolvo com um toque agradecido. =)
ResponderExcluirAna! Sem adjetivos para descrever essa homenagem! Adorei ver que tem um "pedacinho" de mim na sua vida. bjsss
ResponderExcluirAi, Ana, que lindo!
ResponderExcluirObrigada por me incluir em sua homenagem desadjetivada!
Um beijo!
Ótimo texto, Ana. Gosto sempre de ler você pela leveza que suas palavras trazem. Interessante como você se desconstruiu um pouco agora, ao despir-se um pouco do tom nostálgico que em geral seus textos assumem. Agora ganhou ares de anti-réquiem! Versátil, tocante e honesto.
ResponderExcluirGosto muito da passagem "As memórias póstumas durante nosso almoço me trouxeram à vida."
Fico feliz em saber que você me inclui nessa bonita homenagem viva.
Um grande beijo, amiga escritora e incentivadora!
Ana, sua linda ;) Obrigada por me incluir em sua homenagem! :)
ResponderExcluirMuito lindo, parabéns. Bjos
ResponderExcluirMinha querida !!!
ResponderExcluirSaiba que, fazer parte desse maravilhoso mosaico me enche de orgulho e felicidade !!
Esse errante e apaixonado pela vida, e pelas pessoas que são importantes, assim como você, sempre esteve com você nos seu pensamentos, pois você faz parte da história da vida dele !!
Sempre admirei você, e ainda que você seja mais nova que eu, mas você já era referência pra mim. Espero somente que não haja mais hiato entre nossa vidas, e que possamos desfrutar de nossa amizade de uma forma mais plena !!!
Beijos !
Belíssimo,irmã!! Bela homenagem a todos que contribuem para sermos o que somos, companheiros de jornada, da viagem por esta aventura chamada vida! Adoro ler seus textos. Servem sempre como um frescor na alma.
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