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quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Goodbye, London!

A viagem do centro de Londres ao aeroporto de Heathrow costuma ser um tanto longa, não só pela distância como pelo volume de carros em determinados horários. Às onze da manhã de segunda-feira, no entanto, passada a hora do rush matinal, o trânsito flui bem, e o trajeto torna-se mais curto do que o usual.
Ao longo dos quarenta minutos do percurso, aprecio a sequência de imagens que me invadem os olhos e despeço-me da Inglaterra. Os alunos do nobre bairro de Holland Park, que por duas semanas vi seguirem para a escola nas manhãs frias e cinzentas, terminam as aulas do dia e seguem em grupos para casa. O sol bronzeia as árvores secas, dourando seus galhos despidos pelo frio. A tela azul do céu é pincelada de branco nos traços deixados pelos aviões. Os carros vindos pela direita, em direção contrária ao taxi que me conduz, já não me trazem a estranheza de semanas atrás.
Definitivamente, quinze dias não é tempo suficiente para se modificarem os hábitos de uma vida, mas certamente podem nos trazer mudanças, especialmente se vividos com intensidade. Assim foram os meus dias de passeio por Londres e arredores: longos, extensos, intensos. Foram muitos os assuntos dos eventos em solo inglês: história, arte, gastronomia, natureza, multiculturalismo. Cada um vivenciado com imenso prazer, lenta e profundamente. Ao pensar no dia de ontem, preciso parar para lembrar o que fiz. Confundem-se lugares na minha mente e sensações no meu corpo. Até que chegam imagens e impressões mais nítidas: penhascos esculpidos em giz branco, mar rajado de dourado, céu de azul irretocável, ampla área de gramado verde, vento gelado nas faces, vontade de correr com os pés no ar e voar, sensação de liberdade. Penso na imensidão da natureza, no poder das forças desconhecidas e na pequenez da condição humana. Lembrei-me, afinal: Ontem, a caminho da cidade de Brighton, visitei Seven Sisters, a incrível cadeia de sete penhascos ao sul da Inglaterra.
A soberania da natureza de Seven Sisters leva meu pensamento a Stonehenge, o inexplicável monumento de pedras de cinco mil anos de idade. Não se sabe por que as pedras foram dispostas em círculo, quem as colocou onde estão ou como foram transportadas. Novamente penso nos mistérios da vida e o diminuto tamanho do homem diante do universo. Quando foi mesmo que visitei Stonehenge?
Das belezas naturais, meu pensamento se desloca para as construções históricas. Lembro a Abadia de Westminster e suas paredes seculares, seus túmulos régios e seus memoriais de personalidades da história britânica. Penso no quão grandioso o homem pode ser para toda a humanidade, mas também como a história de cada um de nós, inevitavelmente, termina. Seja em túmulo banhado a ouro ou em túmulo algum, todos temos o mesmo fim. Qual foi mesmo o dia em que visitei a Abadia de Westminster?
À medida que o taxi se aproxima do aeroporto, um mosaico de imagens se forma em meu pensamento: Covent Garden, Tower Bridge, Borough Market, Tate Modern, Tower of London, British Museum, Portobello Road ... E um amálgama de sensações se apodera de mim: Surpresa, espanto, melancolia, saudade, alegria. Riso, choro, cheiro, gosto. Quando foi mesmo que visitei esses lugares? Ontem? Semana passada? Há treze anos, quando estive pela primeira vez na Inglaterra?
Penso então na necessidade que temos de delimitar o tempo, definir quando algo aconteceu e o quanto durou. Como se o valor de uma experiência se medisse por ser ela mais ou menos próxima, mais ou menos longa. Pois digo que, de imediato, não sei responder quando visitei cada lugar. Não sei ao certo quantos minutos ou horas se passaram enquanto estive em cada um. Mas sei dizer que vivi cada lugar intensamente. Cada minuto como se fossem horas. E com certeza este é um importante insight que tive nestes quinze dias: intensidade não se mede pelo relógio, mas pela entrega ao momento presente. O que fiz mesmo ontem? E anteontem? Não sei bem. Sei sim o que faço agora: Deixo fluir as impressões que me impregnaram o corpo e a alma nestes últimos dias.
O taxi finalmente chega ao aeroporto de Heathrow. Retiro as malas pesadas por tentarem reter as lembranças da viagem. Olho mais uma vez o céu claro e admiro o dia de sol, despedindo-me de Londres. Atravesso a porta automática e sigo em direção ao balcão de check-in. Deixo para trás os lugares que visitei e levo pela frente as sensações que cada um me causou. Goodbye, London!

5 comentários:

  1. I am wandering, round and round, nowhere to go
    I am lonely in London London, is lovely so
    . . . . . . . . . . . . . . . .
    While my eyes, go looking for flying saucers in te sky

    Bj

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  2. Nossa, nem sei o que dizer sobre Londres... é definitivamente uma das minhas cidades favoritas assim como a Inglaterra é um mundo à parte dentro de mim. Não sei se você já leu um livro chamado os Pilares da Terra, contando a história da construção de uma catedral fictícia do século 13, mas estou amando e sentindo muita falta de estar lá, naquele mundo que é tão intenso (para usar as suas palavras) para todos aqueles que têm uma paixão especial pela língua inglesa. Então, Ana, quando você estava por lá, vendo os cliffs, as catedrais, os teatros, tudo que é tão pulsante nesse território tão estrangeiro, mas tão nosso, eu também estava ali, menos fisicamente, mas muito intensamente. :)

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  3. Muito bom te ver em Londres!!!! Que esta seja uma de MUITAS viagens. Beijocas

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  4. Ana,

    Mais uma vez me identifico com a sua maneira de receber a vida. Ou seja, aproveitando-a intensamente. Super acredito nessa filosofia! E em Londres, cidade a mim tão querida, viver dessa maneira é a única maneira, de tão porfunda e rica que ela é.

    Legal que você tenha restituído para mim esses ares e esses lugares. Fico sempre imaginando como será meu retorno a Londres, se vou me sentir desse ou daquele jeito, se vai ser como da primeira vez. Interessante você estar falando disso agora. Muito interessante.

    Parabéns, querida!

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  5. Ana,querida!
    Faço coro com o Cali:
    'Green grass, blue eyes, grey sky
    God bless silent pain and happiness
    I came around to say yes, and I say'
    saudades,
    J.

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