Desde adolescente adoro o ambiente de aeroporto. O vai-e-vem, o chega-e-sai, o chora-e-ri, as pessoas bonitas (e as nem tanto assim), os estilos diferentes ... Enfim, chegar algumas horas antes do voo não é somente cumprir uma recomendação das companhias aéreas, mas um grande divertimento.
Praça de alimentação do aeroporto Santos Dumont. No aguardo do horário de embarque para uns dias de férias em Floripa, busco um lanche querendo fazer hora e satisfazer o estômago. Na fila para o caixa da lanchonete, penso reconhecer à minha frente os longos cabelos ruivos e o corpo esbelto de uma atriz que recentemente assisti no palco com texto de Artur Xexeo. No momento em que ela se vira para pegar a carteira na bolsa, me vem a certeza de quem é a mulher. E percebo então que ela está usando óculos escuros - em uma praça de alimentação fechada, isenta da luz do dia. Fico imaginando por quê. Para esconder seu rosto famoso? Ou, ao contrário, para chamar atenção para si? Para ocultar olhos que possam estar cansados? Para criar um 'look' particular? Engraçado é que algum tempo mais tarde, na sala de embarque, identifico uma outra atriz com o seu Ray Ban no rosto. Deve ser mesmo coisa de global, não muito compreensível para uma reles mortal.
Retiro minha nota no caixa e me dirijo ao balcão. Levanto o papel, olhando educadamente para a atendente e esperando que ela se dirija a mim. Nada acontece. Verbalizo, então: Dois pães de queijo e um expresso, por favor. Ela vem em minha direção e indaga: Dois pães de queijo e dois expressos? Repito, já sem tanta educação: Dois pães de queijo e UM expresso! Após um pequeno instante, ela me estende um saquinho de papel e uma xícara de café. Pego o meu lanche e sento-me a uma mesa próxima. Abro o saquinho e vejo apenas um pão de queijo. Volto ao balcão, lembrando à moça do lado de lá que eu havia pedido dois e recebido apenas um pãozinho. Ah, são dois é? Indaga ela com olhar distante. Percebo que se eu dissesse serem quatro, receberia o meu pedido em dobro. Pouca diferença faz para ela. Tenho um lâmpejo de impaciência, que logo se transforma em curiosidade. Qual será o motivo de tamanha distração? Patetice nata? Indiferença em relação ao trabalho? Descaso pessoal? Não... Acho que isso não! Ela me entregou inclusive um sorriso juntamente com o segundo pão de queijo... Prefiro imaginar que ela estava pensando em alguma situação muito boa que viveu na noite anterior! Daí a mente fora do corpo naquele momento. É, certamente isso!
Volto à mesa de origem e passa por mim uma mulher afoita, puxando rapidamente sua mala de rodinhas. Em seguida, vejo uma carteira feminina verde sobre a mesa vazia ao meu lado. Penso se pertenceria à viajante apressada, mas ela já se foi. Fico observando as pessoas ao redor, tentando entender se alguém teria deixado uma carteira para marcar o lugar enquanto iria comprar algo para comer. (Tudo é possível!) Logo noto que não sou a única observadora do local. Um funcionário da lanchonete se aproxima da mesa e permanece em pé ao lado da carteira olhando ora para ela ora para as pessoas próximas. Fico imaginando quais seriam as cenas seguintes a esse capítulo. Passados poucos minutos, o homem pega a carteira e segue em direção à lanchonete. Eu o sigo com os olhos. Vejo que ele repousa a carteira em algum canto por trás do balcão e retorna ao trabalho. Terá ele a intenção de aguardar que a dona procure sua carteira? Será esse o seu desejo? Irá ele entregar a carteira a algum departamento de achados e perdidos? Ou quem sabe ele está ansioso para abrir a carteira e encontrar um bom trocado ali? Ai, que feio esse meu pensamento! Mas existem tantas pessoas feias, não é?
Continuo a acompanhar a movimentação do local. Casais enamorados, filhos mergulhados no mundo virtual dos smartfones, executivos em ternos de trabalho, turistas de bermudas... Meus olhos enfim esbarram na tabela de voos e constato que meu embarque é imediato.
Saio de cena e sigo rumo à Ilha da Magia.
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