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quinta-feira, 8 de março de 2012

Um brinde à mulher!

No dia de hoje, subo na gangorra narcísica e levo o meu ego às alturas. Deixo de lado a modéstia, a insegurança, a vergonha, e ergo uma taça a mim mesma. Uma taça de vinho. Uma taça do título. A taça da vida! Sim, hoje eu posso. Hoje é o dia internacional da mulher e o meu brinde é a mim mesma, única e especial que sou no mundo.
O instante do meu nascimento registrou a força do meu sexo. Às 23 horas do dia 20 de março de 1967, cheguei rompendo a expectativa do menino aguardado na sala de espera. A revelação se fez através da ênfase no gênero do adjetivo: “Linda! Ela é linda!” – foram as palavras da enfermeira que levou embora a esperança de meu pai em compartilhar com um sucessor os segredos do mundo masculino. Não tinha jeito: ela era linda e iria crescer mulher.
O tanto de decepção do seu Albano foi esquecido ao longo dos anos. A menina mostrou-se carinhosa, imaginativa, sensível, companheira. Ela queria ser forte. E era esperta o suficiente para esconder de si mesma sua emotividade abundante, o que demonstraria fraqueza. Por isso, seus medos eram só seus, suas dores eram sentidas em solidão e suas inseguranças eram encobertas pelo comportamento exemplar. Que anjo de criança!
Era protegida contra os perigos da vida. A querida avó, com quem passava a maior parte dos dias, sequer permitia seu acesso à cozinha da casa, local de risco para uma menina pequena.
Mas, sem que ninguém soubesse, ela observava a chaleira no fogão e sabia que o leite fervente poderia transbordar. Então, escondendo-se de todos, corria para tampar a chaleira, na tentativa de manter o leite contido. Ela desconhecia que o mecanismo não era aquele, e que não adiantaria evitar o transbordar do leite, tamanha era a intensidade da ebulição.
Foi com o tempo que as verdades surgiram. A menina se transformou em mulher e teve a sua própria casa. Custou a aprender a lidar com a chaleira de leite no fogão e sofreu algumas queimaduras. Mas finalmente entendeu que é inútil lutar contra as forças da natureza. Se o fogo é intenso, o leite transborda. Assim, ela aprendeu a chorar e fazer jorrar suas emoções, medos, dores e incertezas. Ela se tornou mais leve. Permitiu-se fragilidade, sem vergonha. O anjo perdeu as asas e soltou os seus demônios.
Outrora avessa à comemoração de um dia destinado à mulher, hoje brindo este dia. Pouco importa se já pensei que essa data reforça um conceito machista. Por que é mesmo que não existe o dia internacional do homem? Pouco importa. Hoje penso que se existe o dia internacional da mulher, vou sim aceitar a homenagem. E apresentar-me ao mundo. Muito prazer: sou forte e frágil, sensível e insensível, doce e amarga, medrosa e destemida, tímida e sem-vergonha, modesta e vaidosa, laboriosa e preguiçosa, certa e errada. Sou mulher.
Um brinde a mim mesma! E agora um brinde a todas as mulheres! Que cada uma de nós seja hoje a primeira pessoa a levantar uma taça em homenagem a si própria - única e especial que cada uma é.

3 comentários:

  1. Que bonita sua homenagem, Ana. Acho que a sua sensibilidade é tão feminina, tão sua, que lhe cabem muito bem, como uma luva. Ainda bem que nasceu uma linda menina e que essa menina aprendeu a ser uma linda mulher! Mulher complexa, profunda, contraditória (pq não?), sólida. O leite transbordou e com ele queimaduras vieram, mas viver o transbordamento, tenho certeza, faz toda a diferença na vida da gente. Continue transbordando por todos os lados, cada vez mais. Siga sua natureza. Isso te faz muito bem!!!

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  2. Lamento pelo Seu Albano não ter vindo um menino. A menina que veio (e ainda é muito menina!), cruzou meu caminho um dia e enche de alegria, amor, carinho e companheirismo a minha vida. Salve o Dia Internacional da Menina!!!

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  3. Acho que esse foi o texto mais bonito que você escreveu! Com certeza está no hall dos meus preferidos! Linda homenagem a você e a todas as mulheres!!

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